quarta-feira, 29 de abril de 2009

Depois do ir

Há tanto tempo aquela mulher desejava um encontro. A última vez que encontrara alguém havia sido numa turnê a Europa há uns cinco anos. Desde então sonha com aquela voz e com aqueles cabelos. Não lembra do rosto, mas do cheiro... e também do cigarro e da música.

Mês passado, recebeu um convite que chegou por linhas tortas para um trabalho junto a uma companhia de fora, ela acha que é de Lisboa. Uma amiga não podia participar dessa montagem e sugeriu como substituta a companheira de ap, desempregada, fazendo quase trabaho de puta para sobreviver.

A companhia chegou esta semana e a substituta não pôde comparecer ao primeiro encontro por causa de uma forte virose. Amanhã, talvez já esteja melhor e irá, de qualquer forma, para que não corra o risco de haver uma substituta da substituta. O que ela não imagina é que junto a companhia portuguesa, veio um italiano, técnico de luz, que tem a mesma voz e cabelos, o mesmo rosto que ela não lembra, o mesmo cheiro, novas músicas, sem cigarro. O seu reencontro deixou de fumar há mais ou menos três anos.

Ele já não lembra que ela era brasileira, pensava ser argentina, e também não imagina que fará um filho depois de amanhã, embora retorne a Portugal no final da turnê em terras brasilis. Viajará sem saber do herdeiro e sem saber da imensa felicidade dessa atriz que se imaginava sozinha num fim de vida tão próximo.

Seu filho o conhecerá, mas aí eu já não sei como.

segunda-feira, 27 de abril de 2009

Na área

Estou de volta... Nem tanto, porque não posso escrever, contar a felicidade sentida, o amor dedicado, o chorosorrisogargalhada.

Meu computador pifou de saudade, pipocou tudo dentro dele. Acho que foi infarto, da "farta" sentida, se quebrou como o anel que tu me deste.

Encontrei um jeito de vir aqui rapidinho para agradecer as palavras, o carinho e a fidelidade dos e-amigos que sempre vêem aqui me visitar. Prometo postar logo uma coisinha e conseguir parar para visitá-los.

JÁ ESTOU NA ÁREA!!!!!

terça-feira, 21 de abril de 2009

Ir embora

Toda véspera de viagem é a mesma coisa, sinto uma sensação estranha de partida, embora tenha a certeza do regresso. Esta vez está um pouco pior, sem euforia, como coisa corriqueira, com maré nos olhos. Quero aproveitar esta viagem e marejar bastante, voltar fortalecido com o encontro com Judite e encarar os grandes desafios que ainda esta semana começarei a enfrentar.

Escrevo tudo isso para me desculpar pela ausência nos blogs dos e-amigos, mas está difícil parar aqui. Quem perde sou eu. Beijos a todos. Até a volta. Deixo-lhes com esta linda música de Fátima Guedes (que eu amo!!!!!).

Flor de ir embora

Flor de ir embora.
É uma flor que se alimenta do que a gente chora.
Rompe a terra decidida.
Flor do meu desejo
De correr o mundo afora.
Flor de sentimento
Amadurecendo aos poucos a minha partida.
Quando a flor abrir inteira
Muda a minha vida.
Esperei o tempo certo.
E lá vou eu.
E lá vou eu.
Flor de ir embora, eu vou.
Agora esse mundo é meu

PS- clicando no título ouve-se Mercedes Sosa e Gonzalo Rei cantando essa lindeza

quinta-feira, 16 de abril de 2009

De rien

É um menino francês. Dorian, assim se chama. 21 anos. Descendente de italiano. Estuda produção cultural. Lindo. Olhar paulista triste. Sorriso. Paquera. Cigarro. Acendi o meu no seu fogo. Falou de mim. Do meu olhar, minha beleza. A beleza é dele. Ele penetrou no meu olhar, Ele beijou meu sorriso quando eu ia dizer "je voudrais t'embrasser". Ele não entendeu. Beijei falando. "je" beijei a orelha. "voudrais" beijei o rosto. Não consegui acabar a frase, Aquele sorriso me beijou. Me apaixonei "de logo". Beijo tímido, assustado. Podemos saber do outro pelo beijo. O ex brigou. Sempre ha alguém, um ex, um atual. Alguém sempre atrapalha. Saiu. Demorou. Voltou com o telefone. Beijou. Ficou. Falou em inglês, francês. Entendi o olhar. Me viu de tarde passando na porta do trabalho. Vende souvenirs. Não acreditou que eu estivesse na boate. Felizmente estava. Deixou o ex brigando. Sei da tristeza e raiva daquele homem. Saiu comigo."Deixa, é uma longa historia". Caminhou nas ruas empurrando minha cadeira de rodas. Sampa. Bebeu minha cerveja. Me beijou na rua. Me colocou no carro. Me beijou. Foi mais ousado. "a demain". Não sabe o que me causou. Queria dizer em qualquer idioma "thanks for your eyes", Só consegui dizer "merci". "de rien" do tudo que me deu. Amanhã torno a ver. Tomara. Por um momento a França tornou-se São Paulo E eu senti uma felicidade que há muito não experimentava. Um amor do momento do olhar. Rápido e eterno. O amanhã chegou. Ele não veio. Esperou eu ligar. Fui para a Itália. Antes não tivesse ido. Fiquei lá com Dorian. Voltei antes da hora. Liguei. Briguei com a outra. Briguei feio. Feio. Marquei "a demain" novamente. O medo de não ver de novo. Espero alguém que não lembro o rosto. Apenas o olhar e o sorriso. Se ele estivesse na boate e não riu para mim? Não saberia. Enfim ele chegou 10 minutos atrasado. Reconheci. Fiquei nervoso. Tomamos café. Me levou à sua casa. No meio da bagunça o beijo demorado arrumou minha cabeça. Sua cafeteira fazendo um show pirotécnico em nossa homenagem. Bjork canta sem saber para quem. A alegria é minha. Fumei seu cigarro lucky strike. Bebi sua água mineral. "Que vida estúpida" ele disse. Senti seu perfume. Senti seu odor. Seu suor. Peguei no seu pau. Senti sua respiração. A tristeza do seu olhar. "Que vida estúpida" repetiu. Ele deitou no meu ombro. Quase chorou. A hora sempre chega. Ouvi o seu banho. Fumei seu outro cigarro. A persiana caiu e eu o abracei. O elevador abriu. Saímos. Ninguém sabe o que aconteceu. Talvez, nem eu. Me deixou na praia. Pediu que eu mandasse e-mail. Em inglês? Não, respondi. Em francês. Ficou com meu desenho que não chorou. "I will remmember you always. thanks for your eyes". "thanks for yours" me retribuiu. Aquele olhar ficou comigo enquanto sumia em Nice. Acompanhei seus passos enquanto pude. Me soltava beijos. Me sorria. Enfim, tudo na vida acaba. Hoje morreu mais uma esperança. Amanhã nasce outra. É assim. Pela primeira vez eu fiquei bonitinho, meu bem! Nem chorei. A Europa acaba de ficar feia para mim. Ele me disse que aquela situação era demais complicada para ele. O que eu digo então? Andei sozinho pelas ruas. Parei para comer. Osho diz que mastigar é um ato de violência. Concordei. Naquele momento senti raiva da vida. De tudo se repetir. Mas ter vivido uma história assim ajudou a amenizar a antiga. Só guardei o que foi bom. Espero que sim. Hoje é o dia que representa o meu sentimento nessa viagem. Estar sozinho. Não estou nada bonitinho. Estou chorando. Já estou em casa. A outra está indiferente e parece com raiva. Está difícil aqui. Estou com medo. Me sentindo humilhado e sempre só. Mais uma vez a história se repete e eu aqui. Liguei para meu amigo. O cartão acabou. Ai meu deus!!!!! Preciso melhorar. Ou quem sabe voltar? Voltar para o meu mundo. Voltar para mim.
Obs: clicando no título do post vê-se um clipe de Bjork, da música Venus as a boy

terça-feira, 14 de abril de 2009

O astronauta e o urubu

Aqui na cidade, quando chega o parque de diversões é uma festa. Eu lembro que desde menino eu me encantava com a barraquinha de pipoca diferente das outras que conhecia. Os meninos enlouqueciam com o trem fantasma, o carrinho de bate-bate e o twiste, mas eu ficava parado vendo aquele pipoqueiro de olhos perdidos, olhando o espaço por entre as grades da roda-gigante que rodava.
- Moço, quanto é a pipoca doce?
-Moço...
Ele perdido em seus pensamentos, antes da venda soltava vagamente:
- Está anoitecendo e as estrelas começam a despontar.
Eu, pequeno, não entendia o que aquele senhor que começava a "engrisalhar" o cabelo e o bigode de pelos crespos, pele negra, barriguinha saliente apontando entre os botões do macacão prateado, ficava feito criança vendo as estrelas surgindo.

Cresci um pouco mais e virei frenquentador da praça da cidade pequena que nunca mais recebeu parque de diversões. Todo final de semana lá estava o Tonho da Pipoca a vagar, olhando o céu. Num sábado de pouco movimento e nenhuma paquera, resolvi papear com ele e matar minha curiosidade em saber o que tanto o encantava lá no alto. O velho pipoqueiro me revelou que sempre teve sonho em ser astronauta. Sonhava, de verdade, vestido naquele macacão grande, com um "aquário" redondo na cabeça, flutuando pela galáxia.
Me revelou ainda que começou a vender pipoca porque num parque, que chegou à cidade quando ele era pequeno, havia um brinquedo que era um foguete onde as crianças ficavam rodando dentro dele. Para aquele homem esta era a melhor sensação do mundo: sair rodopiando, tonto do foguete, como os astronautas deveriam ficar quando retornavam a Terra. Como não tinha dinheiro para pagar todos os dias o ingresso do parque, começou a vender pipoca para entrar e passar o tempo todo lá dentro. Disse que conheceu muita gente importante.
Seus amigos, sabendo do sonho do menino Tonho, ouviram no rádio que naquela noite haveria um sorteio no parque e o vencedor ganharia uma viagem de avião para a matriz do empreendimento que ficava em São Paulo.
- Tonho, você tem que concorrer ao prêmio, você não sonha em voar, em ser astronauta?
- Oxe, vocês são abestalhados? Viajar de avião é a mesma coisa de viajar de carona num urubu. Eu quero ir mais longe! Não vou participar disso, não. Vou juntar meu dinheiro e quando fizer dezoito anos eu compro minha passagem e viajo de foguete.

Há muito tempo Tonho da Pipoca fez dezoito anos e não conseguiu juntar dinheiro suficiente para sua viagem dos sonhos, mas ele diz que não é triste por isto, fez da sua barraquinha de pipocas, em forma de nave espacial, um jeito de não ficar na Terra.
Vive viajando por aí, por onde sua imaginação permitir. Só se arrepende de ter perdido a chance de passear entre as nuvens, ficou muito pesado para os urubus.

sábado, 11 de abril de 2009

Vem, meu amor!

Eu e Hugo fizemos este duo, há algum tempo (2001), para o espetáculo Vem, meu amor! do Grupo X de Improvisação em Dança, na ocasião da posse de Professora Dulce Aquino como Diretora da Escola de Dança da UFBA.

Com este vídeo fui selecionado para participar em 2007 do projeto Danceability Brasil, do coreógrafo americano Alito Alessi.

Gosto de fazer deste meu espaço um cantinho de falar coisas sobre mim, meus pensamentos e sentimentos e também registrar trabalhos e encontros.

Como não comemorar, ao meu jeito, o Mês da Dança? Disseram que é Abril e pego a ponga para relembrar momentos marcantes de minha carreira.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Um projeto

Numa conversa despreocupada de bar, ouvi de uma amiga uma frase que me fez rir e concordar em tempos de desemprego, de falta de oportunidade, de falta de esperança.

"Se a vida não faz um projeto para nós, nós fazemos um projeto para a vida"
Lene Lima
E sigamos assim...

domingo, 5 de abril de 2009

Deixa fazer a trilha

Duas costas nuas. Escolioses. Ajustamentos físicos. Performance.

Depois da fofurinha de Judite e da exposição que esta me proporcionou, venho desnudar-me ainda mais. Na próxima performance que farei no Teatro Gamboa estarei com Fafá Daltro dialogando sobre a singularidade dos nossos corpos. Trazendo ainda um termo desconhecido pela maioria, mas que é mais comum do que pensamos: DEVOTEE.

Devotee é aquele que tem fetiche/tara/tesão pela deficiência.

Dia 08/04 (quarta-feira), às 20h, Bate-papos corpóreos no Teatro Gamboa.

O corpo no sexo: Maria Paquelet, sexóloga.
O corpo no corpo: Edu O., dançarino cadeirante e Fafá Daltro, dançarina.
Performance de Edu O. e Fafá Daltro

quinta-feira, 2 de abril de 2009

Texturas Urbanas

Aproveitando o início do Mês da Dança, venho apresentar-lhes minha nova experimentação "Texturas Urbanas", um esboço em video para pesquisa das texturas que observo pelas ruas (solo, muros, pessoas, ruídos, encontros, contrastes, sombras...) e como isso me afeta (humor, sentimentos, sensações) sob o ponto de vista da cadeira de rodas.

Este trabalho foi produzido em 2008, no encontro entre o Grupo X de Improvisação em Dança e a Cia Artmacadam da França, quando fizemos 12 horas de improvisação registradas em vídeo. Utilizei minha camêra digital e edição no Windows Movie Maker, sem pretensão, sem pensar em futuro. É o registro de impressões.

quarta-feira, 1 de abril de 2009

Divã

Minha experiência com terapeutas sempre foi muito boa. Teve apenas um que eu odiava porque entrava mudo e saía calado e eu passava a sessão inteira contando como foi minha semana. Quando decidi me livrar daquilo, disse que não queria mais passar minha agenda a ele e que não voltaria mais. Analista freudiano é uma coisa, viu? Nem assim o homem falou nada. Meu travesseiro era melhor para mim pois ele sabia o eu sonhava, o que eu chorava, o que eu sentia...

Depois de um tempo descobri Zezé e este encontro foi tão importante que ontem me deu uma saudade dela. Assisti a pré-estréia de Divã, filme de José Alverenga Jr. com a maravilhosa atriz Lilia Cabral. Filme simples, sem pretensão, com diálogos ótimos e um texto muito belo. Com sutililezas encantadoras. Não é um filme que queira concorrer ao Oscar, não tem malabarismos estilísticos, não... tem apenas uma grande atriz contando uma estória junto com uma turma excelente.

Mercedes, a personagem de Lilia, entra num consultório parecido com o meu primeiro terapeuta e no filme, assim como na vida real (pelo menos a minha) não ouvimos a voz do analista, mas para ela há transformações incríveis e em mais de dois anos de encontro pudemos comprovar o quanto somos complexos mesmo tendo uma vida "aparentemente" simples e feliz.

Zezé, coitada, pegou uma batata quente comigo. Cheguei com um drama de vida, beirando a depressão e era choro para mais de um ano. Terapeuta sofre, viu? Mas com ela pude encontrar em mim a beleza que eu havia perdido, ela conseguiu me orientar para um aconchego em mim mesmo. Sinto-me mais fortalecido, mais confiante. Eu também pedi alta a Zezé, mas não era para me livrar dela, eu estava viajando muito, faltando as sessões. Eu já tinha me livrado daquele peso que me levara ao encontro com ela.

Ontem senti vontade de encontra-la, receber teu abraço e sorriso tão carinhosos e agradecer pelo divã/colo/ouvidos tão importantes em minha vida até hoje.