segunda-feira, 31 de maio de 2010

Dias felizes


Enfim, foi uma alegria, ouvir-te de novo rir, ao menos isso, estava convencida
que já não podia, tu não podias, nunca mais... Algumas pessoas pensarão sem
dúvida que somos um pouco irreverentes, mas eu não acho. Que melhor maneira
de dar graças ao Todo Poderoso do que rirmo-nos das suas brincadeiras, sobretudo
quando não têm grande graça? Penso que neste ponto estás de acordo comigo, Willie.
Ou estivemos a rir de coisas completamente diferentes, um e outro? Enfim, seja como for,
é o que eu digo sempre... desde que... não é verdade... lembras-te daqueles versos maravilhosos...
claras gargalhadas... não sei o quê... desgosto... basta, já me fizeste rir bastante.

(Dias Felizes - Samuel Beckett)


Lembro que Beckett me curou da perda de Sto Amaro quando vim para Salvador, em 1995, estudar Artes Plásticas na UFBA. Estava no segundo semestre, tendo aulas de Estética com o mestre SAJA. Ele convidou toda a turma para assistir dona Fernanda Montenegro no TCA, onde apresentaria Dias Felizes. Voltei para casa com uma emoção nunca antes sentida, nunca mais experienciada depois, tão forte que me move até hoje. Chorei todas as perdas, todos os ganhos, chorei por todos esses dias felizes e banais e nada. Ainda choro hoje ao ler o livro, ao lembrar daquela atriz, daquele momento, daquele dia.

Ao fazer Judite uns tios identificaram algo de Dias Feliezes no espetáculo e me presentearam com o livro. Achei que o projeto ganhou um prêmio com esta assossiação, embora conscientemente eu não tenha feito alusão a peça. Depois em Odete volto a beber da fonte do autor, onde numa cena nós seguimos a risca todas as indicações de movimento sugeridas pelo autor.

Na residência em Itacaré, me apeguei ao texto de Beckett para digerir aquilo tudo e me surgiu Marrilyn Monroe. Este pesquisa ainda em esboço deve se transformar em algo mais eleborado, mais bem acabado. Por enquanto é apenas isso. Igual a mais um dia divino que começou agora.

domingo, 30 de maio de 2010

Negociação com o tempo

Foto de Edu O.


Cântico IV (Cecília Meireles)

Tu tens medo:

Acabar.

Não vês que acabas todo dia.

Que morres no amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.Que te renovas todo dia.

No amor.

Na tristeza.

Na dúvida.

No desejo.

Que és sempre outro.

Que és sempre o mesmo.

Que morrerás por idades imensas.

Até não teres medo de morrer.

E então será eterno.




Foto de Debora Motta


Estimulado pelas palavras de CHORIK e copiando uma poesia de Cecília postada em seu blog, trouxe meu sentimento de hoje com imagens produzidas em Itacaré. Essa residência artística foi um trabalho de negociação com o tempo, com a rotina, com a dilatação das coisas. Uma negociação com a inquietação que me estremece e quem sabe um dia me enlouquece ou cura.

sábado, 29 de maio de 2010

Ah, se eu fosse Marrilyn Monroe!


Sou um travesti caquético. Caco de dente na frente. Pêlos na cara. Nenhum amor. Fiz a vida que me coube fazer. Sobrou-me a peruca da Marrilyn. Puta gostosa que partiu com um coreano montado no aqué.





Meu corpo não deu muito pro gasto. Meu pau demorou a subir. Todos sabem que ocó gosta mesmo é de receber na bunda. Fica todo molinho pruma mulher comer seu cu. Eu que só queria dar, me estrepei. Travesti burra morre que nem eu.

Esse corpo de homem peludo: cara, braços, bunda, barriga, pernas... Pernas de cambito que ninguém aguenta ver. Fui ficando torta de vergonha de mim. Agora só me restou a peruca da Marrilyn. Hoje acordei como ontem. Sei que será mais um dia feliz. E que venha doce.


Fotos de Stéphany Mattanó

Ah, se eu fosse Marrilyn Monroe! é uma pesquisa iniciada em Itacaré, no Projeto do Ar, promovido pela Cia Pensamento Tropical, período de 17 a 27 de Maio, com a assistência de Débora Motta e Cathy Pollini.

sábado, 22 de maio de 2010

uma fugidinha

Dizendo que estou sem contato com a eletricidade, sinal de celular, somente com o verde e os bichinhos.

agora fugi para a cidade rapidinho e dar satisfação. tempo de lan house acabando e deixando apenas um beijo a todos.

domingo, 16 de maio de 2010

Carta branca na manga

A companhia Pensamento Tropical, oriunda de Dezeo-Ito, formada pelos bailarinos e coreográfos CATHERINE POLLINI & GUILLAUME LAURUOL, me convidou para uma residência de 10 dias em Itacaré. Estou indo em companhia de minha comadre.

Nas palavras de Guillaume: é o Projeto do Ar , em itacaré , a gente ti da uma carta branca, 10 dias para trabalhar, experimentar, criar, cantar... num ambiente super natural, é a única restriçao. E dai, o que sai?? é voce que sabe...


Como se fosse fácil sabermos o que sai. Peguei a idéia de carta branca e as lembranças que tenho do meu contato com a natureza no sítio da família onde eu subia em árvores e andava de carro de mão, com minha irmã, no meio da plantação de mandioca. Cavava a terra, comia jambo no pé e brincava na sombra da jaqueira. Pintava o rosto com urucum que caia na janela do quarto. Correndo de cobra e de cachorro. As galinhas passeando com os pintinhos e futucava a "fecha as pernas Maria".
 
Bom... Veremos o que sai dessa carta branca que tenho na manga. Pensei em brincar com a questão do Tempo. Serão 10 dias fora do cotidiano, como uma nova vida. Com certeza a relação de tempo será diferente. Já raspei a barba e registrarei a passagem dos dias através dos meus pelos crescendo na cara. Como uma ampulheta de mim.
 
Mas me permiti ser surpreendido pelo lugar. Torço para que as ideias que estou levando sejam descartadas e que o ambiente me traga coisas novas. É que eu estou muito urbano e ativo. Preciso respirar, aquietar e absorver novidades eternas como só a natureza sabe nos ofertar.
 
Este projeto tem o Prêmio Klauss Vianna/ Funarte2009. Curitiba foi a primeira cidade onde o Projeto do Ar aconteceu. Em seguida, o evento esteve em Ipatinga (MG), agora em Itacaré (BA) e encerra em Salvador (BA).

sábado, 15 de maio de 2010

O Bembé do mercado

13 de Maio. Ontem vivi uma experiência fantástica no Bembé do Mercado em Sto Amaro. A tarde fui presenteado com cheiro daquela terra molhada pela chuva. Chorei ao sorver minha terra, senti-la pelo que há de mais sutil que é o cheiro, o ar. A noite fui ver a festa dos ex-escravos no mercado da cidade todo enfeitadocom trabalhos de minha mãe, Dinorah Oliveira, que mais uma vez arrasou. Aquele batuque dos tambore de candomblé, as roupas, o colorido, as comidas, os amigos... parecia que eu estava em transe. Demorei a assimilar tudo aquilo,a acalmar meu peito com tanta emoção. Para completar, começou o show de Roberto Mendes que estava inspiradíssimo nesse noite, acompanhado pelos Baianos Luz. Aqui desaguei como criançaao ver meus amigos, os meninos que cresci junto, novamente reunido com Roberto, tocando a mais alta qualidade musical que podemos pensar, todos com carreiras brilhantes, saídos dali, daquele chão, daquela mãe.

Espelho feito por Dinorah para a decoração do Bembé

Me senti homenageado, via grandeza em tudo. Que privilégio ter participado dessa noite.

Como sempre e por estar em Sto Amaro e por estar com santamarenses, a noite acabou quase de manhã, a rassaca hoje não me largou e a felicidade também não. Era daquilo que eu precisava. De um banho de Sto Amaro para poder continuar meus afazares com calma.

Citando Guimarães Rosa: Qualquer amor já é um pouquinho de saúde, um descanso na loucura. Bethânia utiliza esta frase no cd Brasileirinho onde canta Yayá Massemba.

Aqui, publico essa música de Roberto Mendes que eu adoro e me emociona muito. Ele abriu a noite com esta bela cantiga que compôs com Capinam.

Yá Yá Massemba

Que noite mais funda calunga
No porão de um navio negreiro
Que viagem mais longa candonga
Ouvindo o batuque das ondas
Compasso de um coração de pássaro
No fundo do cativeiro
É o semba do mundo calunga
Batendo samba em meu peito
Kawo Kabiecile Kawo
Okê arô oke
Quem me pariu foi o ventre de um navio
Quem me ouviu foi o vento no vazio
Do ventre escuro de um porão
Vou baixar o seu terreiro
Epa raio, machado, trovão
Epa justiça de guerreiro
Ê semba ê
Samba á
o Batuque das ondas
Nas noites mais longas
Me ensinou a cantar
Ê semba ê
Samba á
Dor é o lugar mais fundo
É o umbigo do mundo
É o fundo do mar
No balanço das ondas
Okê aro
Me ensinou a bater seu tambor
Ê semba ê
Samba á
No escuro porão eu vi o clarão
Do giro do mundo



Que noite mais funda calunga
No porão de um navio negreiro
Que viagem mais longa candonga
Ouvindo o batuque das ondas
Compasso de um coração de pássaro
No fundo do cativeiro
É o semba do mundo calunga
Batendo samba em meu peito
Kawo Kabiecile Kawo
Okê arô oke
Quem me pariu foi o ventre de um navio
Quem me ouviu foi o vento no vazio
Do ventre escuro de um porão
Vou baixar o seu terreiro
Epa raio, machado, trovão
Epa justiça de guerreiro
Ê semba ê ê samba á
é o céu que cobriu nas noites de frio
minha solidão
Ê semba ê ê samba á
é oceano sem, fim sem amor, sem irmão
ê kaô quero ser seu tambor

Ê semba ê ê samba á
eu faço a lua brilhar o esplendor e clarão
luar de luanda em meu coração

umbigo da cor
abrigo da dor
a primeira umbigada massemba yáyá
massemba é o samba que dá

Vou aprender a ler
Pra ensinar os meu camaradas!

Vou aprender a ler
Pra ensinar os meu camaradas!

quarta-feira, 12 de maio de 2010

Por uma fresta, o amor


detalhe de uma foto de Alessandra Nohvais

Lembro, como num filme, daquele olhar tímido encostado na parede da boate. Eu enlouquecido de vodka, cerveja, noitada, dançando com uma amiga na pista lotada, tive essa visão numa fresta de corpos que dançavam alucinadamente também. Um clarão me mostrou aquele olhar. Cabelos longos, dança desajeitada, quieta ali naquele canto. "Se você quiser eu vou te dar um amor desses de cinema...", Vanessa da Mata previa o final daquela noite. Percebi outros olhares na mesma direção em que os meus olhos estavam direcionados. Pensei: "Não perco essa por nada!". Fui me aproximando, rodopiando a cadeira, braços elevados, quando cheguei mais perto senti seu corpo se curvando para o meu e me beijando com vontade. Ficamos ali grudados e estamos até hoje.

O encontro com este amor me modificou. Não aquela mudança que se suspeita quando, geralmente, encontramos outra pessoa e deixamos de fazer as coisas que fazíamos, de falar com as pessoas que falávamos, de curtir as coisas que curtíamos. Não! Para mim, amor não é isso! Em mim a mudança se deu no saber lidar com o outro, respeitando sem me desrespeitar. Sendo companheiro do outro, estando ao lado e tendo a certeza de que aonde eu estiver terá alguém que pensa em mim desejando estar comigo, vibrando com as conquistas, seguindo junto mesmo que esteja longe.

A quem importa se este amor veste calças ou saias? Se por baixo é cueca ou calcinha? Execer sua afetividade não agride ninguém e não tem o que ser aceito ou não. É e basta e já é pleno. São duas vidas que não agridem ninguém, apenas exercem o direito de dividir-se no mesmo tempo e espaço, enquanto houver alegria no convívio e leveza. Falo isso porque me emocionei algumas vezes com a reportagem do Profissão Repórter apresentada hoje a noite pela TV Globo. Há uma perversidade, um massacre a algo tão belo. O que foi o olhar daquele pai pelo seu filho? As duas mulheres que geraram gêmeos e lhes dedicam todo amor? O que é aquela mãe que acolhe a dor dos outros depois de ter sarado a sua? Por que esta dor? Para que?

A minha me acolheu também nisso e convive com meu namorado como se fosse da família. Ele é mais companheiro dela do que todos os sobrinhos, por exemplo. Agradeço a minha vida por ter tido a oportunidade de cair numa família dessa. Irmã, mãe... família imensa! Gigante! Agradeço minha irmã ter sido a porta de entrada para meu sobrinho poder conviver com pessoas tão especiais. Somos tão poucos, mas somos tão diversos! Ahhh se o mundo passasse um pouco por aqui pela minha casa!

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Com a perna no mundo

Ganhei minha primeira cadeira de rodas quando tinha 13 anos. Tarde para quem desde o primeiro ano de vida convive com as sequelas de uma Poliomielite. Lembro-me dos olhos marejados de minha mãe ao me ver sentado pela primeira vez nesse objeto que se tornaria uma extensão do meu corpo. "Nunca mais vou tê-lo nos meus braços!" Ela chorava enquanto eu descobria um mundo novo, já quebrava um vasinho de louça que ficava na mesinha de centro. Nunca eu largaria aqueles braços, como não largo até hoje. Preciso deles.

Comecei a nomear minhas cadeirashomenageando artistas que eu admirava/admiro, a primeira foi Malu Marley. Malu pelo óbvio, pelo amor que sem pre nutri por Malu Mader. Já escrevi sobre isso aqui no blog. Marley porque, na época, eu fazia aula de violão e uma paixão minha adora Bob Marley. Aprendi a gostar dele e trago esse gosto até hoje. Não rolou a paixão, mas herdei algo de bom. Malu foi amor a primeira vista. Uma cadeira pesada, grande, muito maior do que eu, andava a manivela o que me causou uma lesão no braço direito, mas amor tem dessas coisas. Foi com Malu que entrei na igreja para celebrar meus 15 anos. Foi com Malu que dancei lambada com Leila e Riane. Foi com Malu que descobri os paralelepípedos de Sto Amaro e tanta coisa, principalmente o amor dos amigos que se juntaram para me dar de presente a cadeira.
eu com Malu Marley recitando Castro Alves num evento do NICSA em Sto Amaro

Ainda com Malu Marley lindíssima me guiando para tudo que é canto, minha mãe fez um trabalho somente para me dar uma motorizada Ivete Ranaldi. Ivete Sangalo despontava na Banda EVA e eu apaixonei. Helena Ranaldi eu acho parecida com Ivete e faz meu tipo. Achei que o nome fica lindo. Infelizmente não tenho foto dessa cadeira que era linda, parecia uma moto. O motor ficava na parte da frente e eu podia tirá-lo e andar com a cadeira normal. Não pude aproveitar muito porque minha mãe (que loucura!) tinha medo que eu andasse sozinho na rua, mas comprei um acarajé delicioso com ela.

Cazuza Sinclair que virou a cadeira de Judite e me dá alegria até hoje

Tio Antônio me deu, em seguida, Xuxa Mercury. Eu fui baixinho da Xuxa e me sentia culpado em não homenageá-la. Daniela também teve seu tempo em meu gostar. Xuxa era uma cadeira fina, importada dos EUA, couro azul e bem prateada. Era enorme, mas eu adorava ela. Foi esta cadeira que viveu comigo um Reveillon inesquecível! Infelizmente não achei fotos, mas vou procurar.

Depois chegou a minha preferida: Cazuza Sinclair. Cazuza é meu amior ídolo até hoje. Sinclaír é o nome de um personagem do livro Demian de Herman Hesse. Este livro me ensinou muito sobre o amor. Essa cadeira também. É a melhor dançarina da família. Judite me roubou o meu amor, mas as vezes tiro uma lasquinha. Cazuza também foi presente dos amigos. Vermelhona. Chegou em pleno carnaval. Era ela que me trazia para casa quando eu estava em altas farras com Rita e sem condição de saber para que lado eu ia. Eita cadeira inteligente. Ainda bem que não fala.

Ganhei de Sheu Adriana Velloso, homenagem a Calcanhoto e Caetano. Adriana não ficou muito tempo comigo, porque eu já estava com duas cadeiras e uma outra pessoa precisava mais do que eu. Adriana foi a mais generosa que me apareceu.

Bethânia Maria em performance na França.

Bethânia Maria foi a que mais viajou. Ela chegou a mim com a ajuda de tio Zequinha e pelo espetáculo que fiz junto com muitos amigos no Teatro Dona Canô para conseguir dinheiro para trocar de cadeira. Cazuza já estava dando problemas, estávamos tendo muita DR (Discutir Relação). Bethânia era elegante, dança muito também. Hoje ela pertence ao Grupo X e está vermelha, estilo espanhola, no espetáculo Os 3 Audíveis... Judite, Ana e Priscila.

Judite Piaf numa apresentação com o Grupo X e a Cia Artmacadam. Na foto eu e Iara Cerqueira

Cadeira de rodas é uma pessoa com muita personalidade. Quando ela começa a imbirrar é melhor cortar relações, fazer a fila andar. Com Bethânia Maria foi assim. Quando ela começou a aborrecer, procurei outra. Foi então que na França eu ganhei Judite Piaf. Judite pela minha linda lagartinha que me fez voar e ainda faz, Piaf por causa de La vie en rose. Ela é meu pneu reserva. Se acontece alguma coisa com as titulares, Judite está pronta e linda para me acolher. ELa não se dá muito bem com o clima de Salvador, as pedras, as calçadas horrorosas... ela é francesa e prefere sair quando há muita necessidade, caso contrário...

eu, Tetê Zinha e Fafá em Curitiba

Quando eu cheguei com Judite e Bethânia, as duas procurando confusão, eu decidi procurar um amor novo. Vasculhei nos sites e me deparei com uma modelo Tetê Zinha. Cor violeta, elegantecíssima, educadérrima, não gosta de se exibir, preferiu advocacia às artes. É ela quem me dá conselhos quando eu saio brigando pela acessibilidade ou qualquer outra coisa. É minha filha linda que está, agora, me ditando este texto sobre suas irmãs. Homenagem a uma das maiores cantoras, na minha opinião, Tetê Espindola e a minha vó Zinha.

Se as cadeiras são a extensão de meu corpo eu poderia dizer que elas são as minhas pernas. Ivete, Malu, Xuxa, Daniela ou qualquer outra me desculpem, mas quem há de negar que eu tenho as pernas mais lindas do mundo?

Deixo aqui um complemento para meu texto que é Gonzaguinha cantando Com a perna no mundo. uma música que eu acho minha cara.

"Diz lá pra Dina que eu volto
Que seu guri não fugiu
Só quis saber qual é
Pernas no mundo
Sumiu"

sexta-feira, 7 de maio de 2010

Minha feijoada no Copacabana Palace

Estava assistindo a novela Viver a Vida curioso pelo casamento e lua-de-mel de Luciana. Acompanhei, um pouco, esta novela para ver como se desenrolaria a personagem paraplégica que tomou o lugar da protagonista. Parabenizo o trabalho de corpo da atriz Aline Moraes, a construção da personagem, o trabalho amadurecido que ela demonstrou. Quanto ao autor não dá para desculpar os deslizes, a falta de senso e a manutenção do pensamento e discurso da superação, do corpo coitadinho. Da equipe da novela percebemos inúmeros equívocos no que se refere a acessibilidade. O de hoje foi gritante e irritante. A primeira noite de casada de Luciana foi no Copacabana Palace. Um hotel sofisticado, famoso e sem nenhuma acessibilidade. Zero. Sabem o que é ZERO ACESSIBILIDADE? Pois bem...

Numa dessas minhas viagens ao Rio de Janeiro visitei este hotel por causa de uma exposição que tinha lá dentro. Fui acompanhado de duas amigas: Caco e Nádia. Havíamos acabado de almoçar num daqueles restaurantes da orla uma bela feijoada carioca. Hummmm dávontade de comer agora aqueles torresmos, a couve.... Vixe. Bem, minha amiguinha Nádia pediu para levar o que sobrou do almoço e saimos com uma quentinha. Nada mais terrível do que isso, né? Para completar minha amiguinha Caco inventou a tal visita a tal exposição do tal hotel. Como tudo cabe em mim, adentramos ao luxuoso hotel e ao nos depararmos com os degraus da primeira (tem inúmeras) escada o saco da quentinha veio para o meu colo que já estava sendo carregado pelas meninas. A quentinha virou dentro do saco que ficou com aquele caldo preto, horrível, uó.

A minha entrada no high socity foi triunfal. Carregado como um faraó, mas com um tanto de ranço.

Para falar a verdade eu não estava nem aí para o Copacabana Palace. Se um lugar daquele diz claramente que ali eu não sou bem vindo, não seria eu que faria esforço para parecer bonitinho. Ele fizeram mais feio do que eu. E hoje eu embolei de rir lembrando daquela cena, vendo o contraste com a entrada de Luciana, que estava satisfeita, que não comentou sobre isso, nada.

Vamos ser sinceros também, no colo de um Matheus Solano eu também não estaria pensando em degraus, escadas, rampa... eu estaria fazendo exatamente o que ela fez. Afinal o que interessa é a ROSA!!!!

Uma dúvida: será que ela comeu feijoada antes da lua-de-mel?

PS: Tive que colocar esta foto para que não ficasse feio só para minha cara. A amiguinha também vai passar a vergonha comigo. hahahahahahahahhahahahahahahahahahaa


eu e Caco na mesa do Hotel da Bahia onde íamos todas as tardes curtir o ar-condicionado

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Homenagem a Chorik



Achei curioso saber que chegaram ao meu blog procurando no Google a "plEiboy de LIDA BRONDE" e também "enlarguecendo a japinha".

Clicando na figura dá para ler essas preciosidades. Obrigado Chorik pela orientação de instalação desse programa.

quarta-feira, 5 de maio de 2010

Para um amigo que não foi


desenho de Edu O.

Anda com borboletas na cabeça e formigas nos dedos!


Pensei em você o dia todo
Lembrei do nosso tempo de convivência
Quantas coisas já aconteceram desde então...
Quantos conceitos mudaram
Com você, talvez, tenha acontecido o mesmo
E nós distantes, não nos conhecemos mais
Acho até que nunca nos conhecemos de verdade!
Brincadeiras antigas, já sem o tempo certo da comédia,
Coisas novas que não se fazem entender...
Mas, aquele foi um belo tempo...
É amigo!
Foi o tempo que, voando, não nos deixou perceber que nos afastávamos,
Que interesses novos surgiam
Foi o tempo...
Me fez esquecer você
Que contradição!
O mesmo me faz sentir saudade agora
Saudade daquele passeio entre as esculturas
E as pessoas preocupadas com o meu sumiço,
Sem saberem que eu não poderia estar em melhores braços;
Saudade de quando o que eu menos queria no teu colo
Era simplesmente carinho de amigo
Saudade do teu riso, teus olhos,
Enfim, saudade de você.

Amigo? Talvez!”

Não boicote a FICHA LIMPA

Senhores deputados, nós já somos mais de 2 milhões de brasileiros pela Ficha Limpa, se vocês tem vergonha na cara, se vocês são honestos, se vocês honram os votos que tiveram, se vocês são comprometidos com a palavra que deram em benefício do país, se vocês não são ladrões, se vocês não usam dinheiro público em benefício próprio, enfim... por todos os motivos óbvios


NÃO BOICOTEM A FICHA LIMPA!

Edu O.

"A Ficha Limpa está por um fio - a votação será hoje à noite. Temos pouco tempo para bloquear as linhas telefônicas dos líderes dos partidos que estão propondo destaques (alterações) na Ficha Limpa. Ligue e fale:


"Sem boicotes, nem alterações: aprove a Ficha Limpa hoje!"

Os telefones e emails são:

Henrique Eduardo Alves (PMDB): (61) 3215-5539 / dep.henriqueeduardoalves@camara.gov.br

José Aníbal (PSBD): (61) 3215-5832 ou (11) 3667-7811 / dep.joseanibal@camara.gov.br

Ronaldo Caiado (DEM): (61) 3215-5227 ou (62) 3242-2776 / dep.ronaldocaiado@camara.gov.br

Mario Negromonte (PP): (61) 3215-5345 / dep.marionegromonte@camara.gov.br

Sandro Mabel (PR): (61) 3215-5443 ou (62) 3281-9400 / dep.sandromabel@camara.gov.br

Jovair Arantes (PTB): (61) 3215-5504 / dep.jovairarantes@camara.gov.br

Nós já somos mais de 2 milhões de brasileiros pela Ficha Limpa mas precisamos mostrar que somos sérios e comprometidos. Os deputados precisam entender que a sua ausência na votação - é um voto contra a Ficha Limpa!"

Fonte: http://www.avaaz.org/po/mobilize_ficha_limpa/?cl=564393352&v=6110

Os 3 Audíveis... Ana, Judite e Priscila



Vídeo do espetáculo do Grupo X de Improvisação em Dança

Brincando de cinema no palco fazendo Os 3 Audíveis... Ana, Judite e Priscila. Nesse trabalho Judite deixa sua solidão e se confronta com outros encontros. Acho que a socialização da lagartinha foi dolorosa, mas para o seu cavalo (eu) é uma delícia.

Este foi um espetáculo que encontramos uma gama variada de observações e olhares externos. Cada um com uma percepção que traz em si a sua própria forma de vivenciar as coisas, mas aquilo que fazemos não necessariamente seja o que dizem ver. Eu adoro todas as formas de olhares. Me divirto fazendo. Acho um trabalho muito rico. Além do orgulho de sermos os pioneiros no Brasil em espetáculos de DANÇA com audiodescrição de imagens para pessoas com deficiência visual. Abrir caminhos é doloroso, caro, mas dá uma satisfação imensa.

PS: eu estou em crise porque não consigo fazer meu blog acessível. Alguém pode me ajudar? Não sei se o blogspot dá a possibilidade de seguir normais da acessibilidade para pessoas com deficiência visual. Gostaria de seguir por este caminho porque acho que é um dever. Por isso as vezes tem letras grandes, outros posts não... estou confuso.

segunda-feira, 3 de maio de 2010

Cântigo negro





"Vem por aqui" — dizem-me alguns com os olhos doces
Estendendo-me os braços, e seguros
De que seria bom que eu os ouvisse
Quando me dizem: "vem por aqui!"
Eu olho-os com olhos lassos,
(Há, nos olhos meus, ironias e cansaços)
E cruzo os braços,
E nunca vou por ali...
A minha glória é esta:
Criar desumanidades!
Não acompanhar ninguém.
— Que eu vivo com o mesmo sem-vontade
Com que rasguei o ventre à minha mãe
Não, não vou por aí! Só vou por onde
Me levam meus próprios passos...
Se ao que busco saber nenhum de vós responde
Por que me repetis: "vem por aqui!"?


Prefiro escorregar nos becos lamacentos,
Redemoinhar aos ventos,
Como farrapos, arrastar os pés sangrentos,
A ir por aí...
Se vim ao mundo, foi
Só para desflorar florestas virgens,
E desenhar meus próprios pés na areia inexplorada!
O mais que faço não vale nada.


Como, pois, sereis vós
Que me dareis impulsos, ferramentas e coragem
Para eu derrubar os meus obstáculos?...
Corre, nas vossas veias, sangue velho dos avós,
E vós amais o que é fácil!
Eu amo o Longe e a Miragem,
Amo os abismos, as torrentes, os desertos...


Ide! Tendes estradas,
Tendes jardins, tendes canteiros,
Tendes pátria, tendes tetos,
E tendes regras, e tratados, e filósofos, e sábios...
Eu tenho a minha Loucura !
Levanto-a, como um facho, a arder na noite escura,
E sinto espuma, e sangue, e cânticos nos lábios...
Deus e o Diabo é que guiam, mais ninguém!
Todos tiveram pai, todos tiveram mãe;
Mas eu, que nunca principio nem acabo,
Nasci do amor que há entre Deus e o Diabo.


Ah, que ninguém me dê piedosas intenções,
Ninguém me peça definições!
Ninguém me diga: "vem por aqui"!
A minha vida é um vendaval que se soltou,
É uma onda que se alevantou,
É um átomo a mais que se animou...
Não sei por onde vou,
Não sei para onde vou
Sei que não vou por aí!


José Régio

Há dois dias estou com este poema na cabeça e na boca. Hoje acordei de um sonho estranho, uma festa temática, reveillon, e eu esquecia minha fantasia, minha roupa nova. Maria Sampaio chegava de vermelho, num lindo vestido e dizia que estava vestida de Iansã. Nesse momento o cenário mudava e estávamos a beira do mar com ondas fortes (sempre tenho sonhos com ondas gigantes  e/ou fortes). Eu ficava com medo, como sempre tenho nesses sonhos e acordava. Despertei com a poesia de José Régio novamente na boca. Corri para procurá-la e publicá-la aqui no Monólogos.
 
Gostei de presentear esta poesia numa segunda-feira que começou com cara de preguiça, ouvindo ainda Maria Bethânia nessa maravilhosa interpretação.

domingo, 2 de maio de 2010

Desamor

foto de Alessandra Nohvais


As fotografias caídas da parede
Como reboco velho
Antigo rumor

*“É que tudo parece ter a ver”

Da casa em ruína
Ainda sobraram os ruídos ao meu redor
Rondando meu peito doído
Sussurrando maldades, mesquinharias...

“Vezes que deixei de tudo por tua causa”

O egoísmo fere meu ouvido
Rompe o tímpano
E compreendo o outono

“Vezes que inventei uma calma”

Pela necessidade de morte
E de uma futura vida
O beijo já tem gosto de guarda-chuva
Da chuva dos olhos
Dos pertences mofados

“Cuecas que envelheceram”

Da boca a pele descascada
Denuncia a ansiedade
Que consome as unhas
Fura o olho do furacão

“Sabão na tua vontade?”

O olhar escorregadio
Desdenha da fome dos dentes

“Querer demais é qualidade”

A língua lambe um buraco na parede
A dor consome a saliva
Na sede da saudade
No mau hálito de cigarro
Não há chuva, nem luz, nem nada

“Amar demais é desespero”

Do coração ao pulmão
Uma ponte fina se avizinha
Na falta de respiração
De um começo que tinha tudo pra dar certo
Restou a agonia da espera
De ter que criar asas
Para compartilhar momentos
De não se saber ouvir
De não se falar do desamor

“O casamento é um desterro”

Na relação alguém perde primeiro
E não é trapaça de jogo
É o tempo diferente para cada um
É a desesperança de amar
É a pressa em reconquistar o que não volta
Na falta de um novo recomeçar

“Velha mágoa que se cala.
O peito vinga-se na pirraça”

Ao saber da desonestidade do jogador
Era esse o meu amor?
Da sinceridade prometida
Restou a demora da confissão
Entra na história um de preto
Que não entrara até então

“Ao saber do teu vício”

A mágoa que não consegue findar
Sexo por sexo
Vazio na noite, breu
Compartilhar algo que não é só seu

“Vício são as minhas entranhas”

Remoendo, digerindo, compreendendo teu sono
Não fazer parte dos sonhos...
Marcas no meu lençol
Manchas de lágrimas
Empoeirando meu rosto

“O olhar já te cobra sempre”

A falta do olhar
A falta de carinho
Do cuidado que tinha
Das carícias bem feitas
Que hoje já não fazem mais

“Mas beija tua boca e prefere se mentes”

Se tudo fosse um laboratório
De um roteiro que eu não fizesse parte
Se nossa brincadeira fosse de mentirinha
E tuas palavras ensaiadas
Por certo

“Agüentaria te perder”*

*Apropriação de um texto de Líria Moraes