quarta-feira, 30 de junho de 2010

Um chá vespertino

Lady Sé e Lord Dan faziam quarenta e cinco anos de casados naquele dia. Abadonaram o chá vespertino, habitual, na varanda de casa para aproveitarem a tarde com um passeio pelas pequenas ruas do centro de Londres. Poderiam pegar um trem ou um táxi, mas preferiram uma volta de ônibus para reverem lugares que não viam há muito tempo. Pegaram a linha H14 que os levaria ao centro para o Café Francês. Dia de comemoração, gostavam de fazer coisas diferentes.

O ônibus ainda estava vazio, apenas com um pai e seu filho que brincava pelo corredor do veículo. Acharam graça naquela criança bochechuda a perguntar tudo ao pai e a sentar em todas as poltronas, a observar todos os cartazes, a brincar naquele espaço aparentemente pequeno, mas que se transformava num mundo, uma nave, num navio, só dependia da imaginação infantil.

No quarto ponto entrou Dona Gorda, uma mulher interessantíssima que adorava quando a chamavam por este apelido. Seu nome era Lady Fatma, mas pelo seu corpo robusto os amigos começaram a chamá-la de Lady Fat. Era uma mulher alegre, carinhosa. Estava voltando de sua aula de natação e esquecera a toca na cabeça molhada. Estava uma figura realmente engraçada. Aposentada da repartição pública, trabalho que executara com prazer após passar em concurso, viveu uma vida sem muita novidade além da morte prematura do marido na Segunda Guerra. Criou sozinha seus três filhos, dois gêmeos, numa vida simples e farta. Dona Gorda era viciada nas guloseimas que a colega de trabalho levava para vender escondido na repartição. Ela já subiu no ônibus com o sorriso largo contando ao casal sobre o "tique nervoso" da professora de natação e gargalhava como raramente se via aquelas pessoas fazerem. Dona Gorda era feliz. Contou ainda que achava estranho depois da aula o salva-vidas permanecer na sua função mesmo com a piscina vazia. Que vida ele guardava ali?

Não durou mais do que dez minutos e Dona Gorda se despedia, acenando com as mãos para o casal que continuava a viagem. Ela estava indo a loja de doces comprar coisinhas para a festa de aniversário do neto que completaria sete anos. Festa simples, mas tem que fartura. Insistiu em dizer antes de descer do ônibus. Na descida não percebeu que o menino que brincava saiu correndo pela porta deixando o pai desesperado. O ônibus seguiu antes que o homem conseguisse descer para seguir o filho que corria pelas ruas estreitas do centro daquela imensa cidade. O pai desceu no outro ponto com as mãos na cabeça, correndo em direção a rua que o filho se perdera. Lady Sé e Lord Dan sentiram uma tristeza imensa ao verem o pai de cabeça baixa, arriando na calçada, sem saber o que fazer além de chorar.

O casal que havia perdido dois filhos em abortos espontâneos no início do casamento, sempre agradeceu a vida por não ter insistido em dar-lhes uma continuação. Desceram no ponto seguinte, pegaram um táxi  de volta para casa e se alegraram por mais uma vez tomar um chá na varanda de casa acompanhados, cada um, por seu amor.

terça-feira, 29 de junho de 2010

Tell me something you love. Thank you.

Segundo dia de pesquisa com Claire Cunningham e Mish Weaver, um trabalho muito intenso que bole em lugares mais profundos da pele, músculos, emoções. Muito forte mesmo. Hoje fizemos um exercício delicioso de pedir que o outros nos fale alguma coisa que ama e sempre agradecíamos pelo parceiro ter compartilhado isso conosco. É uma tarefa simples, de repetição, um na frente do outro, insistindo na pergunta umas cinco vezes, depois troca, quem perguntou agora responde e nós dizemos a primeira coisa que nos vem a cabeça, sem refletir, sem elaborar.

Você poderia me dizer alguma coisa que ama?

Obrigado


Minhas respostas foram muito variadas e depois fizemos outra escrita livre, saiu isso:

cachaça café café nei loiro branco vermelho nem bigode pêlos sapatos céu verde mato floresta mar sobre você qualquer coisa só vendo desejo de gostar chama chamariz chafariz praça santo amaro camarão chocolate coca-cola boyfriend bar beber caipirinha same times french sugar maluco beleza sorrir livre sonho com cama dormir de conchinha branco sofá sorvete colcha internet quarto de hotel valter música de caetano veloso faculdade de belas artes reveillon violão cantar a noite inteira beber vinho comemorar gargalhar deitar em rede e ver a lua enorme no céu crescer rudá saudade de ouvir "bó dudu" medo dele me esquecer de não ser importante minha irmã me deu o melhor presente meus amigos me fazem falta fabricio beatles rudá genê sofá fundir foder forever mesa de bar geraldo fim de semana weekend margareth carnaval confusão pular brincar dançar tv sofá brinquedo médico minha vó odete máquina de costura embaixo da mesa corina cochicho sussurro lençol preguiça dedal para costura fome não comer preferir beber entrevista gente pessoas em pé de pé sofá meu avô torrada

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Escrita livre

lembrança de minha mãe tia lucia brasilia tempo de cirurgia hospital queda não caí mas havia o medo da queda choro primeira coisa que agora me veio a certeza de ter desistido sem insistir em conquistar continuar fracasso vivendo o oposto choro dançar com lágrima por dentro betina nick anie kinberly miriam cris minha primeira infância em pé o mundo é grande e haja perna para andar muleta me impedia não seguia meu ritmo santo amaro londres ontem ia comprar um dedoche do espaço conquistar meu espaço apoio sustentação ajuda limite gravidade quando jovem sorriso sonho velocidade trem avião vôo borboleta judite alito vôo com as muletas pernas de muleta são paulo meu lugar no mundo santo amaro meu avô rua do amparo praça da purificação pudim de leite escorregar no pudim pé de coentro cair como de um pé de coentro amorosidade responsabilidade abraço francês café aquecer por dentro helene will falta de vontade desejo encontro deslocamento para outro tempo outro espaço lugar minhas pessoas minhas lágrimas

domingo, 27 de junho de 2010

Café requentado

Cheguei a pouco do centro de Londres, parei no computador para descarregar a máquina fotográfica e resolvi escolher uma musiquinha brasileira para festejar. Da minha lista de opções, escolhi Martinália. Ela ficou cantando gostoso para mim enquanto eu lia emails, arrumava a bagunça do quarto e de repente começou:

Benditas coisas que eu não sei
Os lugares onde não fui
Os gostos que não provei......

Lembrei que publiquei esta música no final de 2009, celebrando as novidades do ano que viria. Não é que 2010 me proporcionou uma surpresa maravilhosa e agora eu ando provando coisas que não sei e sentindo novos gostos, novos cheiros, vendo imagens maravilhosas e criando outras tantas?

Estou parecendo aquela pessoa que serve café requentado, falando sobre o mesmo velho assunto, chata, conversa de bêbado, mas é impossível não insistir no tema e me desculpem se pareço que falo sozinho, deve ser isso mesmo. Ando a me beliscar para ver se é verdade.

Não tenho aquele perfil de achar tudo de fora maravilhoso, nem sou o melhor dos turistas, porque acho um saco visitar os cartões postais e não me interessa muito os lugares, sou adepto da observação das pessoas e a diversidade aqui é tão alucinante que me faz pensar na complexidade do humano e isso já riqueza demais, um caldo muito grosso.

*A música Benditas é uma composição de Martinália e Zélia Duncan

sábado, 26 de junho de 2010

Conversa de um quase sozinho


Há que se ter um momento de quietude, há que se fazer o silêncio para ouvir o que a vida lhe diz. Não importa onde esteja: ônibus, relógio, matriz... todo lugar é o lugar de se ouvir o que está bem lá dentro.


Quando as emoções se confundem, os olhares se atordoam tamanha a vontade de absorver, quando a cabeça entontece e os olhos ensaiam chorar, é aí o momento de calar, de seguir, de entender que tudo é um presente, tudo é O Presente, nada mais. Não importa o que foi, o que se quis, o que se planejou, pouco importa o que virá. É agora e nunca mais. Depois é outra história, outro cenário, outro corpo. Depois... O que virá?




Fotos de Edu O. e Daniel Purcell

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Como se diz anarriê em Inglês?

Como é mesmo que se fala ANARRIÊ em Inglês? E felicidade? Deve ter alguma explicação para só hoje, véspera de São João, eu poder vir aqui no blog e atualizar as coisas.

São João é a festa mais alegre de nossa cultura, onde encontramos amigos, viajamos, bebemos bastante e comemos delícias que ficam esperando esse período para sairem do forno. Eu estou bem longe disso, mas não menos alegre e feliz.

A pesquisa nessa primeira semana junto ao Candoco está sendo muito forte, intensa. Estou fisicamente, psicologicamente e emocionalmente perturbardo (só para não esquecer meu Corpo Perturbador). Estou impressionado com a qualidade dos dançarinos, da proposta, da organização, de como o grupo é aberto a quem chega, como estou me sentindo bem. É muito difícil pensar na realidade da Dança Inclusiva no Brasil, a partir dessa referência. De como as coisas precisavam estar mais avançadas no que diz respeito a incentivo e pesquisa, ao poder público e a iniciativa privada compreenderem o potencial artístico e cultural desses corpos, de como os pesquisadores precisam sair do lugar comum do assistencialismo, da falta de cuidado estético, enfim... Quero falar é de minha felicidade e de como é alucinante você ter consciência que está vivendo um sonho.

A viagem até Londres foi super tranquila, dormi como se estivesse em casa, deitado em duas poltronas no avião, refestelado como se estivesse no sofá da Hebe. Eu e Dani, meu professor de inglês e tradutor aqui, chegamos bem, mas um pouco excitados com a oportunidade de estar em Londres. Já no primeiro instante, ainda no aeroporto, nos perdemos no elevador. Acreditem. Eu entrei, a porta fechou e ele ficou. Era para eu subir mais dois andares e espera-lo, eu desci no andar seguinte e ele foi para onde deveria. Nisso eu já tinha descido e assim foi uma picula de entra e sai de elevador. Depois nos restou sorrir e seguir nosso destino que é em Harrow. Eu digo que estamos em Lauro de Freitas e é isso mesmo, aqui é a área metropolitana. Cidade bonitinha, bastante imigrante, pequena,mas não é Londres né? E eu achando que ia fechar! Nem dá, porque o trabalho é pesado, das 10:30h as 18h. Estamos trabalhando com Marc Brew, coreógrafo/dançarino que já trabalhou com o grupo. O trabalho dele é maravilhoso e ele é uma figura adorável.

Vamos que vamos, meu povo! Enquanto vocês comem amendoim, bebem licor, pintam o dente de preto e dançam até o sol nascer, eu estou com uma garrafa de água ao lado, me preparando para dormir e dançar quando o dia começar.

Cada um faz o seu ANARRIÊ como pode, né? Só não pode é perder o compasso na quadrilha. A minha aqui está bem ensaiadinha.

sexta-feira, 18 de junho de 2010

Arrumando as malas... Candoco - Londres

Mais uma vez arrumando mala para viajar, mas essa não é apenas uma viagem. Impossível falar sobre isso sem voltar ao passado, sem pensar em expectativas, sonhos, desencanto, felicidade... tudo junto e misturado.

Em 2003 eu pensei em dar o meu primeiro vôo. Era primeiro semestre e soube que o Candoco estava realizando audição para selecionar novos dançarinos. No ano anterior eu havia feito um workshop com eles em Juiz de Fora e não precisei ir até Londres para ser avaliado, bastava enviar um material com todos os meus trabalhos e curriculo traduzido. Fiz tudo certinho, mas recebi uma resposta negativa. Agradeceram o envio do material, elogiaram, mas naquela época não dava. A partir dai coloquei na cabeça que eu iria para a Europa de qualquer forma. Um ano depois estava eu chegando ao aeroporto de Lisboa a caminho da Ilha da Madeira e delá para a França, Itália e Alemanha para trabalhar, dançar e viver, talvez, a maior experiência de minha vida. Esta é uma viagem referência para mim, todas a partir dela são submetidas a algum tipo de comparação, sem dizer com isso que outras tenham sido menos importantes e melhores.

Lembro que para esta viagem eu fiz uma rifa para juntar algum dinheiro para viajar. Eu rifei alguns trabalhos em miniatura de minha mãe, Dinorah Oliveira, um quadro pintado por mim e recebi de Maria Sampaio seu livro Recôncavo para que fosse mais um ítem da rifa. Além disso me deu uns dólares que ela tinha. Já na viagem, ela me colocou em contato com Miro, em Berlim e eu fiquei hospedado em sua casa, na cidade que mais gostei da Europa.

Para quem não conhece, o Candoco é uma das companhias de dança mais reconhecidas mundialmente pelo trabalho que fazem com múltiplos corpos, ultrapassando o discurso de Dança Inclusiva e se firmou na Dança Contemporânea. Pois bem, este ano recebi um convite desta companhia para passar duas semanas em pesquisa com os coreógrafos Marc Brew e Claire Cunningham.

Acompanhado de meu amigo e professor de inglês Daniel Purcell, amanhã pego o avião carregado de lembranças e ansiedade, me cobrando corresponder as minhas expectativas e confuso com tanta coisa boa, mas que exigem escolhas. Volto daqui a duas semanas e só Deus sabe como eu retornarei.

Peço a Baco, a Deus, a Jeliel, a todos os deuses do sensível e da arte que eu me sinta feliz e realizado. Que eu aproveite ao máximo este trabalho e que Londres me acolha como uma boa anfitriã. Pena que eu perderei a celebração a Maria no dia 03/07, dia do meu retorno.

Até mais ver, Osvaldo! Qualquer dia desses mando notícias do mundo de lá.

quinta-feira, 17 de junho de 2010

O Corpo Perturbador


O que te perturba? O que é um corpo perturbador para você?
No meio de inúmeras coisas para resolver antes da viagem, ontem tive a alegria de assinar o contrato com a FUNCEB para dar início ao projeto O Corpo Perturbador, meu próximo solo com estréia prevista para Novembro, mas com muito trabalho a partir de agora.

Vencedor do Edital Yanka Rudzka 2009 - apoio a montagem de espetáculos de dança no estado da Bahia, este projeto será um divisor na minha carreira, nas minhas pesquisas, na minha forma de coreografar e pensar dança. Me proporcionará um outro entendimento do meu próprio corpo e uma outra forma de lidar com ele.

O trabalho traz uma abordagem diferenciada sobre o corpo que é considerado incapaz, não-belo, perturbador: o corpo com deficiência, fora dos padrões do pensamento hegemônico. Numa sociedade imensamente erotizada, acredita-se ser pertinente instigar uma outra reflexão sobre o assunto, abordando, a partir dos devotees, a sexualidade neste corpo, assim como as relações de poder intrínsecas nas relações afetivas, sociais, políticas, culturais e religiosas que envolvem as pessoas com deficiência.

O processo de assinatura do contrato foi longa e angustiante. O desejo de começar a colocar a mão na massa era enorme. Agora já é hora. Vamos colocar nosso bloco na rua. Sim, um bloco, porque apesar de ser um solo, terei uma equipe imensa e maravilhosa me acompanhando, pois eu acredito que sozinho não se vai ao longe. Quero minha cordinha de carangueijo comigo e isso inlcui, é claro, meus amigos que ocupam o lugar principal em todos os meus projetos: o público.

Será criado um blog para o projeto e lá eu precisarei das idéias, contribuições, críticas, avaliações de tudo que for acontecendo durante o processo. Todos estão intimados a entrar nessa contradança.


As fotos são de Alessandra Nohvais, trabalhadas por Anderson Falcão da AF Design que teve uma sensibilidade e uma compreensão incrível do que eu pensava e queria para o projeto. Inclusive, foi o primeiro a dar uma contribuição para irmos delimitanto a estética e as referências que serão pesquisadas no trabalho. Nesse trabalho utilizando imagens de Bosch sobre meu corpo.

Quero agradecer, logo de cara, a Cléa Ferreira e a Fafá Daltro que construiram comigo um projeto que me orgulho de ter escrito. A Anderson e Alessandra pela disponibilidade e companheirismo. Nei Lima pela vida juntos. Cate por me suportar no ouvido. Ao pessoal da FUNCEB pela atenção de sempre, em especial a Érica e Alê.

quarta-feira, 16 de junho de 2010

Receita mágica para a sábia felicidade moderna

Fausta é uma dessas pessoas que ficarão para sempre em nossas vidas. Ela e sua família fazem parte de minha infância, das descobertas de amizade e construção de vínculos. Sua irmã, Letícia, talvez tenha sido a primeira amiga que tive consciência de ter, daquelas amizades infantis que não se desgrudam. Bricávamos e víviamos juntos, viajávamos, sempre perto um do outro. Fau era mais velha e não participava muito das brincadeiras, mas sempre simpática e engraçada eu adorava estar em sua companhia. Na vida há desencontros e num determinado momento me desencontrei de Letícia. Fausta continuou presente de alguma forma mesmo quando estava longe e agora a internet tem nos aproximado, estamos em contato constante, embora pouco nos vemos. Letícia apareceu para me ver dançar e me deu muita alegria.

Fausta festejou meus sonhos com poesia e me presenteou. Eu, todo emocionado e agradecido, publico essa declação de amizade.

Receita mágica para a sábia felicidade moderna


Pegue todos os seus sonhos,
decore-os à Dinorah, bem coloridos e festeiros
liste-os num estandarte dos reis da sua vida
e segure-os nos moldes de um pensamento,
calma...fotografe...registre...estátua...

ZZZZZZZZ...
Pronto. Fez-se o padrão!
Este será o módulo para qualquer nova ideia,
transparência se fez dos seus sonho lindos,
projetada em tudo apartir de agora.
Uma viva membrana infinita.

Para sempre, sempre mesmo,
em todos os dias da sua vida
eles se tornarão sua realidade.
Aproveite! Curta! Brinque!

Vem cá, sonho é como ouro nessa vida de stress,
Não se avexe por carregá-los para cima e para baixo,
São leves e só seus, estão seguros, não os perderá!
Que Deus te ajude a gozá-los, meu filho!


Com todo carinho para vc, Edu. Não me deixo abater nunca, pois vivo com meus sonhos lindos, carregando-os para cima e para baixo... parecem "pinduricalhos", rs, rs. Aproveite-os e nunca deixe de sonhar! Sonho são mesmo que nem ouro nessa vida de stress!!!

Bjão,

Fausta

terça-feira, 15 de junho de 2010

Me dando conta

Foto de André Baliú

O que fazer quando os sonhos resolvem acontecer todos ao mesmo tempo? Parece que se reuniram num dia ensolarado, tomando uma geladinha, comendo churrasco e felizes com a vida que eu idealizei para eles, sairam em bando, batucando um samba de roda, me carregando como em procissão pela rua.

O que fazer com um bando de sonhos reunidos, alegres, saltitando em minha frente e me fazendo rir? Ainda estou atônito seguindo a correnteza veloz, como um turbilhão, uma enchente, uma alucinada multidão numa quinta-feira de carnaval.

Sem tempo para comemorações, sem muito tempo para digerir e absorver tudo o que acontece de vez, me vejo as vezes travado, com medo, sem saber o que decidir. É bom, é bom, é bom... repito inúmeras vezes como numa prece. Obrigado, obrigado, obrigado... insisto para que a vida me ouça e não se canse de mim que ando cansado, mas muito feliz e nem me dei conta disso ainda.

Acho que estou chegando lá!

segunda-feira, 14 de junho de 2010

Os mesmos amigos de sempre

Oito é o símbolo do infinito.

Eles eram oito na oitava série da Escola Gustavo Viana. Eles eram um só e ainda são embora cada um tenha seguido seu rumo, escolhido seus atalhos, seus caminhos. Quando se encontram parecem voltando ao tempo e nenhuma mudança lhes tira o brilho dos olhos e a felicidade no peito pelo reencontro. Alguns constituiram família, tem filhos, outros permanecam na solteirice, todos trabalham e seguiram carreiras distintas, todos são homens/mulheres dignos e de caráter.

Faz muito tempo que partiram, faz muito tempo que a oitava série que na verdade vem desde o maternalpara alguns, se acabou. Falo dos amigos de infância e de eternamente. Sem eles o que seria de mim? Quem eu seria?

Eram oito dentro da sala atormentando os professores e adorados por eles. Em outras classes outros tantos amigos que demonstravam querer estar ali, junto com a gangue da oitava.

Fugíamos das aulas, pulávamos os muros, cantávamos na presença dos professores, nos apaixonávamos uns pelos outros, éramos bem unidos e repito, ainda somos.

Reencontrei dois deles esta semana e tudo veio a tona. Puro carinho, enorme amor, cumplicidade em cada beijo, em cada abraço.

Voltar ao meu interior... não há nada mais importante para mim. Sto Amaro não é apenas uma cidade que eu vivi, passei, é o meu lugar no mundo, é o que eu sou, é para onde quero voltar. E que seja sempre em companhia dos meus amigos, mesmos amigos de sempre.

paulafabricioleilarianeadelmoalexnaldoelaneedu............

Nota de esclarecimento: só coloquei os nomes dos alunos da oitava série, amigos da escola toda e de vida também existem, como Rita que reclamou a ausência de teu nome, mas para não ter problemas coloquei só os colegas de sala. Não adiantou muito, já teve reclamação. hahahahahahaa Isso tembém é uma característica da turma.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

Tudo estava escancarado a nossa frente, principalmente o mundo.

Urso é uma performance que começou como uma brincadeira no abafado de um quarto, embora este quarto estivesse aberto. O que nos dava aquela sensação de abafamento, falta de ar? Tudo estava escancarado a nossa frente, principalmente o mundo.








A porta... A janela está aberta E esse mundaréu!!!!! Por que?
Por que você não sai?



Fotos de Cathy Pollini

quinta-feira, 10 de junho de 2010

Eu Marinei

Eita que hoje está cheio de assunto e eu adoro falar. Sei que não interessa a ninguém, mas eu Marinei há muito tempo. Hoje como foi o lançamento da campanha, me deu vontade de registrar aqui.


Educação para todos

1 goal, education for all


1 meta, educação para todos

Porque acho que esse slogan tem a ver com o post aí embaixo e porque estou me emocionando com a festa africana discutir isso num evento onde as pessoas parecem esquecer os verdadeiros problemas, pelo menos aqui no Brasil. Maravilhoso!!!!!

Teatro Jorge Amado


Lembro que a primeira vez que pisei num palco de teatro foi No Jorge Amado. Eu já havia me apresentado em palcos alternativos, praças, mas teatro, teatro mesmo foi no Jorge Amado.

O Teatro sempre foi para mim um lugar sagrado, um templo que exige respeito e um espaço generoso onde tive a oportunidade de ser o que sou. Então, estar ali, naquele momento era como pisar num lugar sagrado, pedi licença, como faço até hj, pedi que os deuses do teatro e da dança me abençoassem e dancei com o coração aos pulos por estar realizando um sonho de menino.

Agora o Teatro Jorge Amado vai ser leiloado e esta notícia abalou toda a classe artística que assiste mais um espaço do fazer artístico indo para outras mãos que provavelmente não darão continuidade ao grandioso serviço prestado a arte baiana e brasileira ao longo desses anos todos de funcionamento.

Segue abaixo uma convocação a população soteropolitana para a Virada Cultural do Jorge Amado. Peço que leiam com atenção, mesmo que não tenham interesse em ir ao evento, mas vejam o que a cidade e todos nós perdemos se algo não for feito para recuperar este teatro.

Estamos nos aproximando do dia de entrega do TJA à Desenbahia. Embora estejamos negociando com ela e com a SECULT uma condição especial de funcionamento até dezembro, respeitando sua pauta, o imóvel irá a leilão a qualquer tempo e logo será público que trata-se de um leilão aberto a qualquer participação, o que significa que o teatro corre o risco de desaparecer caso o adquirente não tenha interesse em mantê-lo como equipamento cultural.


De 1997, ano de sua inauguração, que contou com a presença dos três grandes amigos, Jorge Amado, Calasans Neto e Caribé, até 2009, o TJA realizou 3.764 apresentações de eventos culturais e recebeu um público de 1.017.729 pessoas. Somente em 2009 foram 373 apresentações, ou seja o teatro funcionou a todo vapor o ano inteiro.

Como se sabe o Teatro JOrge Amado é um equipamento cultural que dispõe de uma caixa cênica da melhor qualidade, sendo um dos poucos teatros de medio porte de Salvador, com várias móveis, pé direito altíssimo, ciclorama e dotado de uma acústica que permitiu, ao longo desses anos, inúmeras gravações de CD e DVD dos mais variados artistas além da preferência de muitos espetáculos cênicos de qualidade vindos de outras praças, por finalmente não precisar submeter-se ao imenso palco/platéia do TCA, respeitando assim a excelência de nosso teatro oficial para espetáculos e shows de grande porte.

O Teatro Jorge Amado trouxe ao público de Salvador a possibilidade de assistir a temporadas de espetáculos em tournée nacional para além de um único final de semana no TCA, e tambem possibilitou aos artistas locais a permanência em cartaz por alguns meses, contribuindo assim para a profisionalização de produores, diretores, atores e técnicos baianos, que antes disputavam pautas mínimas na Sala do Coro e no Teatro ACBEU (hoje também fechado).

Os Cafajestes, Volpone, O Vôo da Asa Branca, Vixe Maria Deus e Diabo na Bahia, O Indignado, Todo Mundo Tem Problemas Sexuais, Bolero, Na Bagunça de Seu Coração, Lábaro Estrelado, Bodas de Sangue, Dom Casmurro, Esperando Godot, Mulher Popular Brasileira, Bastidores do Carnaval, Eternamente Braguinha, Divorciadas, Evangélicas e Vegetarianas, Como Raul Já Dizia, Nada Será Como Antes, Setembrina, Comédia do Fim, A Falha, 1,99 , E Aí, Comeu? , Album de Família, Atire a Primeira Pedra, A Bofetada, Intimidades Sem Censura, A Princesa e o Únicornio, História Cantada, Abismo de Rosas, Pluft o Fantasminha, Do Outro Lado do Muno, O Mágico de Nóis, Um Dia Um Sol, Na Lua, na Rua, na Sua, O Mágico de Oz, Histórias Mimadas, O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá, O Lixo é um Tesouro, Pedro e a Cobra de Fogo, O Mistério de Feiurinha são exemplos de espetáculos baianos que cumpriram longs temporadas no Teatro Jorge Amado, que também recebeu muitos shows e eventos culturais como as várias edições do projetos Terça do Jazz, Viva Voz, Nossa Língua Portuguesa - o Baianês, de sua produção propria e também shows memoraveis de Saul Barbosa, Noeme Bastos, Rebeca Mata, Margareth Menezes, Roberto Mendes e seus encontos musicais, Gerônimo,e Luiz Caldas em temporada, Mariene de Castro, Vânia Abreu e Vanessa da Mata, antes de estarem prontas a assumir o TCA. E a Orkestra Rumpilezz que fez deste palco sua casa urante 6 meses em 2009.

Dos muitos espetáculos do eixo Rio-São Paulo que investiram em temporada no TJA podemos lembrar O Ignorante, de Pedro Cardoso, A.M.I.G.A.S de Luana Piovani, As Sereias da Zona Sul, de Miguel Falabela, O Grelo Falante, Juca Chaves em diversos espetáculos, Benvindo Siqueira, Chico Anysio, Doce Deleite, com Reinaldo Gianechinni, Bonifácio Bilhões, com Benvindo Siqueira e Jorge Dórea, Rossicléia, da comediante cearence, 7 Conto de Luís Miranda. Artistas que vieram para ficar mais de um final de semana, apostando na praça de Salvador e querendo aproveitar da fama que já corria em outros estados sobre o sucesso dos espetáculos baianos junto ao público local.

O Teatro Jorge Amado trouxe opção de lazer cênico a uma população que estava mais distante do centro da cidade, inclusive à região metropolitana do litoral norte. Tornou-se referência entre as escolas de ensino fundamental e médio que passaram a investir mais nos espetáculos amadores de seus alunos, desenvolvendo neles o gosto pelas artes cênicas e a criatividade. Possibilitou a retomada dos "projetos a Escola Vai ao Teatro", ampliando o mercado para as produções de espetáculos infantis locais e formando entre crianças da pré-escola os futuros fruidores de arte dramática.

Abriu espaço para que seminários e eventos corporativos pudessem agregar espetáculos teatrais a suas realizações, ampliando mais uma vez o mercado dos artistas profissionais da Bahia. E finalmente pode manter a tradição dos eventos anuais das escolas e companhias de dança locais, que passaram a investir em espetáculos cada vez mais caprichados para a apresentação de seus alunos.

Este é o teatro que corre o risco de fechar suas portas e 2010, tornando Salvador ainda mais pobre em suas realizações culturais.


POR TUDO ISTO CONVIDAMOS A POPULAÇÃO DE SALVADOR, SEUS ARTISTAS DE TODAS AS LINGUAGENS, SEUS TÉCNICOS, SEUS PRODUTORES, EMPRESAS PATROCINADORAS E A IMPRENSA DE MODO GERAL A PARTICIPAR NO DIA 18 DE JUNHO, A PARTIR DAS 10 hORAS E DURANTE TODO O DIA, DO EVENTO DENOMINADO MOVIMENTO VIRADA CULTURAL - PELA PRESERVAÇÃO DO TEATRO JORGE AMADO. PARA QUE ESSA CASA CONTINUE SERVINDO AOS BAIANOS, PARA QUE NOSSOS GOVERNANTES ENCONTREM OUTRA FORMA DE SER RESTITUÍDO O CAPITAL TOMADO DE EMPRÉSTIMO AO DESENBANCO (HOJE DESENBAHIA), SEM QUE O TEATRO DEIXE DE EXISTIR ENQUANTO EQUIPAMENTO CÊNICO DE NOSSA CIDADE!
TODOS AO TEATRO JORGE AMADO NA SEXTA FEIRA 18/06!!!


Iara Colina
atriz, diretora teatral e produtora cultural

quarta-feira, 9 de junho de 2010

Querido amigo

São Paulo, 23 de abril de 2006.


Querido amigo,

Cartas podem parecer coisas em desuso, ainda mais em tempos de email e celulares, mas eu não resisti, ao imaginar que você pegaria esse papel em suas mãos e passaria seus olhos sobre ele. São tantos cruzamentos sobre os quais falar, que nem sei por onde começar. Afinal onde é o fim/inicio da rede? Sem falar que ela não tem centro: tem nós.

Você me segredou muitas preciosidades nas ultimas missivas. Teríamos metros de papo e ainda assim eu estaria atrasada com as respostas. O artista em crise, deslocamentos, novos acordos, configurações atualizadas. Óbvio que me preocupo com você e arrisco que só os corajosos vivem plenamente, tanto perto do perigo, quanto perto da alegria da descoberta de novos universos. Ele é tocado e atravessado pelo mundo com suas pessoas, coisas (seres os mais diversos), sonhos e encantamentos. Tudinho em tempo real. Inventa critérios e fica brincolando texturas e entendimentos. Não só o artista, o brasileiro parece muito assim.

Eu, do lado de cá, estou dentro de uma missão coletiva e muito séria (e para mim, encantadora, já que sempre quis ser filósofa) de construir argumentos, critérios e textos para responder porque a dança é uma área de conhecimento – com epistemologia própria e objetos singulares. Quer dizer, será que toda dança é uma forma de conhecimento? Que tipo de conhecimento tem na dança? Existem regras/princípios/características universais entre as produções desse conhecimento ou não? Será que toda dança produz conhecimento?

Durante a festa, o que mais aconteceu foram corpos chacoalhando nas mais diversas direções, planos e velocidades. Não teve um que não tenha dançado, posso lhe assegurar. Como disse uma amiga, “o funk une as pessoas”, coisa que concordei imediatamente ao ver todas (e todos) “descontrolados” na pista improvisada. Foi radiante!

O paper que mandei para o congresso de Space Art foi aprovado e eu fiquei nas nuvens. (hehehehe) Como tem sido de praxe, não poderei ir pq 1) as agências de financiamento de pesquisa exigem que o pedido seja feito no mínimo 90 dias antes (como se na vida real as coisas fosse resolvidas com essa antecedência...); 2) ministério da cultura com edital de concessão de passagens fechado (além de não responderem email); 3) crise política, crise econômica, instabilidade financeira, sujerada desvelada pra todo lado..

Vou estender a roupa. Está um domingo ensolarado e eu preciso aproveitar. [...] Também descasquei cebola, abobrinha italiana e uma cenourinha básica. Sabe que a gente vive com a eterna sensação de fim de mês, economizando, sendo criativo, inventando moda, enfim. Vou fazer um risoto a la Lovelace, como chamei, com bastante curry, arroz semi-integral, vegetais (não os dos governos de cultura e editais), temperos e outros encantamentos/condimentos secretos. Lamento não poder jogar meu feitiço adiante, não tenho convidados para o almoço, o que pode acabar fazendo com eu coma de mais ou de menos.

Ta ficando menos ensolarado a ponto de, talvez, eu ter que usar a expressão levemente nublado.

Logo termino de lavar a panela que esta de molho, para fazer o arroz. Escuto o interfone do prédio ao lado disparado. O mundo anda muito barulhento, meu querido, pelo menos aqui perto de casa. É o ruído do portão da garagem do vizinho, o taxista que fala gritado, buzinas, carros, ônibus, caminhões, o pagode do apartamento ao lado no volume máximo, e assim sucessivamente.

Além disso, tb tenho me sentido meio defasada tecnologicamente (embora eu adore um brechozinho, um crochezinho e uns espartilhos) estou sentindo falta de um computador mais potente (meu teclado e mouse foram pro pau), um aparelho de som(pq o meu “dinossaurico” só ta funcionando o rádio e umas fitinhas cassetes), uma televisão que tenha entrada para DVD, uma tábua de passar roupa, um robô-aspirador em forma de tamanduá bandeira...

Há muito o que fazer e o sol voltou a brilhar!

Adoro quando diz “faça seu conto”. E você, mesmo quando afirma que não tem palavras, apenas paralelepípedos no peito, ainda assim, fala tão bonito. Tão cheio de letra. Com tanta vogal. Uma coisa poeta-meio-flor-escapanado-do-arame-farpado-porque-saiu-voando-noo-bico-do-beija-flor, sabicumé? Quase lamento, quem foi que me disse que a borboleta pode machucar a asa quando ta saindo do casulo? Não veio de você que “quanto mais palavras eu conheço, mais sou capaz de pensar o meu sentimento”?

(a Nina espreguiça, se enrosca e parece o bicho mais feliz que existe dentro de sua própria pele na face da Terra.)

Concordo, nada de moedas. Nosso bando precisa voltar a andar junto. O sol firmou, quem podia esperar?

Vou torcer outra máquina, que é para gringo nenhum entender. Tenho pilhas de papel e o arroz por fazer.

Olha o meu angu: cebolinha e alho frito na manteiga, arroz marronzinho, kinua, uma cenoura quase inteira, uma abobrinha inteirinha, semente de linhaça, água fervida, sal, curry, pitadas de pimenta branca moída, entre mexidas misteriosas. Ta tudo lá na panela, cozinhando, cozinhando, cozinhando no ritmo do “café com pão”. Senti uma falta danada de um copo de vinho. Ta quase pronto, o arroz criando rapinha. Acabei comprando duas cervejinhas, devo terminar o dia sem sair de casa. Tem hora que a melhor coisa a fazer é comer uma maçã de sobremesa e sossegar o facho. Quantos planos a fazer? E o arroz criando rapinha. Mais goles de cerveja. Eo arroz criando rapinha. Vou desligar o fogo senão queima.

Se eu pudesse, te daria o pôr-do-sol que tem aqui. Por mais incrível que possa parecer, esse solzinho de fim de tarde é de uma luz sensacional. Dá uma coisa boa no corpo, no olho, no pensamento. Dá vontade de namorar, fica romântico. Boas idéias pipocam. Se eu pudesse te daria esse presente, esse estado, essa iluminação. Uma fresta atinge os dedos no teclado. Nesse meio-tempo, quase esvazio o copo. Mandarei uma encomenda para você pelos que estão indo.

Ando quilos mais magra, virando yogue. Meu corpo, com costas-destravando, está soltando chacras adiante. Respiro, respiro, respiro. A melhor aeróbica. Sinto dor por tudo que é músculo mas ela é alegre e viva. Supero limites, viro deponta cabeça, respiro pelas narinas, entôo om. Agora agarrei meu muiraquitã e não tiro o patuá da carteira nem que a vaca tussa! Para tempos de solidão-solitária, solidão a dois, solidão em família... O fato de estar sozinha-povoada num almoço de domingo mais ou menos ensolarado/nublado vai cair muito bem. Não podemos nos esquecer que, muito pelo contrário, estou absolutamente bem acompanhada. Porque afinal de contas nada disso aqui estaria acontecendo se você não estivesse aí me ouvindo com teus olhos-garras.

No vale tudo da vida, não esqueço o protetor solar. E faço minhas preces para estar mais perto de quem amo.

Saudades oceânicas nos aproximam.

Antes que o sol se vá, receba meu abraço,

Muitas de mim, com a boa e velha ginga.

Maíra Spanghero

História de uma lágrima muda (da série Retomando o passado)

"Ontem o ônibus de volta para casa, passou por um lugar estranho, uma cidade pequena, as ruas vazias às seis da tarde, e pensei em nós, não sei por qual motivo, mas as ruas, as casas, os poucos viventes na rua deserta, me fizeram lembrar você. Pensei em como todos os lugares onde você não está, parecem com aquela cidadezinha. Meus olhos foram se entristecendo e do coração caiu uma lágrima muda. Itatim é o nome da cidade."


Nei Lima
 
Publiquei este texto em 02 de Setembro de 2008. Encontrei-o meio sem querer, passando pelas coisas do meu passado. O mais lindo nisso tudo é que o amor ainda é tão presente e todas as vezes que não estamos juntos esta lágrima muda insiste em cair.
 
Foto de Uran Rodrigues

terça-feira, 8 de junho de 2010

A ditadura gay

Eu gosto de colocar na roda tudo que me engasga, tudo que me faz refletir, tudo que me alegra, tudo. Recebi hoje um email equivicado de um tio que eu gosto muito e que admiro pela inteligência, mas tive necessidade de respondê-lo porque achei o discurso que ele disseminava pela net um tanto quanto perigoso, ainda mais sabendo seu círculo de amizades, homens, pais de família, onde não seria difícil a manutenção do discurso preconceituoso registrado pelo texto do vereador Carlos Apolinário. Mais perigoso quando sabemos que está, também, na discussão o projeto de lei que considera crime a homofobia e são uns deputados bonitinhos bem no quilo do ilustre vereador que estão lá para votar.

Segue o texto do vereador e minha resposta ao email. Já que estamos na roda, vamos dançar na roda, vamos rodar!

A ditadura gay



CARLOS APOLINARIO


De alguns anos para cá, muito se tem falado sobre gays e lésbicas. Em todas as Casas Legislativas, e também no Executivo, têm sido aprovadas leis a esse respeito -e ainda existem muitos projetos em tramitação.

A Assembleia Legislativa de São Paulo aprovou a lei nº 10.948/ 2001, que determina: se alguém for acusado de discriminar um gay em uma empresa, além da multa e do processo penal, o estabelecimento poderá ter cassada a licença de funcionamento. Ou seja, se a empresa tiver 200 funcionários e sua licença for cassada, todos serão punidos com a perda do emprego.

O movimento gay faz um intenso lobby para que o Congresso Nacional altere a lei nº 7.716, que define os crimes de racismo.

O objetivo das lideranças gays é que a legislação passe a punir também aqueles que têm uma opinião divergente das suas.

Se alguém falar contra o casamento entre pessoas do mesmo sexo, ou disser que não concorda com a adoção de crianças por homossexuais, poderá ser processado.

E mais: caso essa lei seja alterada, não poderei falar da Parada Gay, nem mesmo fazer o discurso contra a instalação da Central de Informação Turística GLS pela Prefeitura de São Paulo, como fiz na Câmara Municipal. E não poderia nem escrever este artigo.

A Constituição Federal assegura o direito à liberdade de expressão.

Podemos criticar divórcio entre héteros, sindicatos, empresários, políticos, católicos, evangélicos, padres e pastores, mas, se falarmos contra o pensamento dos gays, somos considerados homofóbicos e nos ameaçam, até com processos.

Punir alguém por manifestar opinião divergente é próprio das ditaduras. Eu tenho a convicção de que já estamos vivendo numa ditadura gay, pois, na democracia, qualquer pessoa pode discordar.

Eu não concordei com a Prefeitura de São Paulo quando ela proibiu as manifestações na avenida Paulista, mas lá manteve a Parada Gay. A Paulista é uma via de acesso aos principais hospitais da cidade.

Por esse motivo, foi proibida a realização de eventos, entre eles a comemoração do Dia do Trabalho promovida pela CUT e a Marcha para Jesus. Não faz sentido manter a Parada Gay na Paulista.

Por defender essa posição, sou acusado de ser homofóbico.

Também sou acusado de homofobia por me manifestar contrariamente à participação da prefeitura na criação da Central de Informação Turística GLS no Casarão Brasil, sede de uma ONG gay.

Não é correto usar o dinheiro público para dar privilégio a um grupo. O ideal é criar um serviço que atenda a todos os segmentos sociais, já que a Constituição diz que todos somos iguais perante a lei.

Respeito o gay e a lésbica, pois, como cristão, aprendi o significado e o valor do livre-arbítrio, mas discordo da exclusividade que o poder público dá à comunidade gay.

Essas medidas tornam os homossexuais uma categoria especial de pessoas. Do jeito que as coisas vão, daqui a pouco alguém apresentará um projeto transformando São Paulo na capital gay do país.

CARLOS APOLINARIO, vereador em São Paulo pelo DEM, é líder do partido na Câmara Municipal. Foi deputado estadual, presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo e deputado federal."
 
Meu tio, permito-me discordar desse texto do Deputado Carlos Apolinário, assim com as questões movimento do negro foram e ainda são muito criticadas, consideradas abusivas, radicais, o mesmo acontece com o movimento gay, porque essas pessoas, com pensamento semelhante ao deputado querem manter a farsa do aceito, respeito, mas não quero perto, tanto para gays, negros, deficientes... é o "sei que vocês existem, mas respeitem meu espaço". O caro deputado mantém um discurso raso sobre ditadura. O que ele sabe sobre as questões dos gays? Qual pensamento ele defende sobre as mortes, agressões, violência sofrida pelos gays, diariamente, dentro de casa, na rua, no banco, na tv? Precisamos ter cuidado ao falar de assuntos tão sérios principalmente quando se trata de vidas humanas.


É o tal negócio de acusar primeiro antes que resvale para si. Nós gays precisamos melhorar muitas coisas no nosso discurso, mas a luta é pelo respeito a diversidade e a vida e a liberdade que nos é castrada diariamente. O Deputado Calor Apolinario deveria tirar seu discurso ultrapassado e perigoso do armário e assumir de vez o seu ponto de vista, na fala "Respeito o gay e a lésbica, pois, como cristão, aprendi o significado e o valor do livre-arbítrio..." ele já deixa claro o que pensa realmente.

Gostaria que o senhor enviasse para as outras pessoas que receberam este mesmo email para que a discussão possa ser levantada numa via de mão dupla e não apenas na via do estimado deputado.

Beijo

Edu"

PS- na resposta ao email eu confundi e escrevi Deputado, o cidadão agora é vereador de São Paulo.

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Arruda e salsa São Cipriano

Quem escolhe a arte para viver só pode ser muito descarado. Depois que escrevi o post "Apertado de costura" fiquei martelando coisas na minha cabeça. Se fosse em outra área eu conseguiria comprar pelo menos um carrinho novo. Vendo minha agenda anual aí do lado me dá mais tristeza ainda. Se fosse num país que respeitasse seus artistas, tenho certeza que daria para comprar uma casa, ter tranquilidade financeira.

Aqui não. Conversando com um amigo taxista, chegamos ao assunto dos convites para "divulgar seu trabalho". Não conheço nenhum profissional que aceite convites simplesmente com a divulgação como pagamento. Artista, coitado, paga para trabalhar.

Não lembro de ter parado um táxi e pedir uma carona a fim de divulgar o trabalho do motorista. Nunca fui a um oftalmologista para sair sem pagar e ele feliz aceitasse apenas a divulgação de seu consultório. Médico, faxineira, advogado, pedreiro, dentista, arquiteto... nada. Lógico que temos amigos que nos oferecem serviços e seu tempo e se disponibilizam a nos ajudar, mas falo de convites profissionais que a pessoa já vai avisando: "não temos dinheiro, mas é bom para você divulgar seu trabalho". A gente fica até sem graça, ne?

E as iniciativas de incentivo a cultura e a arte? Eles nunca concordam com os valores que colocamos para os profissionais, acham abusivos, altos, absurdos. Ora, para realizar um projeto precisamos contratar profissinais tamrimbados, qualificados, de acordo com a necessidade de nossos projetos. Eu mesmo sempre tenho vontade de pagar bem a quem convido para meus projetos, mas sempre sou obrigado a diminuir os valores, quando não repetir o tal "divulgar seu trabalho por enquanto, no próximo teremos dinheiro" (o que me enche de vergonha) e esperando que no próximo realmente consiga pagar a todos que fazem o projeto acontecer.

Estamos realizando, a zero real, o Encontro de Dança Inclusiva, conseguimos alguns apoios importantíssimos, mas nenhum podia pagar os cachês dos convidados, muito menos a equipe organizadora que está há meses trabalhando em função do evento.

Só gente descarada inventa um evento desse porte sem dinheiro e ainda convida os outros, né não?

Enfim, estou falando tudo isso porque ao relatar todas as atividades que estou envolvido, ouvi de pessoas próximas que os outros poderiam pensar que eu estou recebendo muito, ganhando bastante, inclusive em moeda estrangeira e que isso poderia gerar inveja, olho gordo, e eu não deveria sair falando assim.

Xocotô!! Arruda e salsa São Cipriano!!!!!

Antes fosse, mas ainda não consegui me acalmar toda vez que vejo correspondência passando embaixo da porta. Tremo nas bases para abrir os envelopes e ver o tiro que receberei e torcer para o dinheiro de algum trabalho suprir as necessidades. Também não quero chorar as pitangas, estou apenas jogando a real.

Mas tudo mudaria se eu de repente atacasse Cauã Reymond (se é para aparecer que seja com o mais belo dos belos), beijasse aquela boca (que boca!) e aparecesse na TiTiTi, Quem, Contigo.... Bombasse nos programas sensacionalistas e recebesse convite para a GMagazine ou o BBB, falasse besteira atrás de besteira, mostrasse o quanto sou burro e alienado. Pronto, acho que encontrei a fórmula para comprar minha casinha com garagem para colocar o carrinho que tanto preciso comprar.

Se alguém souber o telefone, msn, orkut, facebook, twitter verdadeiro, endereço de Cauã, por favor ajudem esse artista que vos fala a divulgar o seu trabalho. Não custa nada, né? E sei que Grazi vai entender do que eu estou falando.


Eis o responsável por me dar casa, comida e roupa lavada.

Eu também sou filho de Deus. Se não ganhar nada, pelo menos matei a vontade que me consome. hahahahhahahahahaaa

domingo, 6 de junho de 2010

Aureliôôôôô

Como assim!
Não é amor o que sinto?
Qual a sua denominação?

Ultrapassa a amizade,
O desejo, o tesão...
Qual a sua denominação?

Se fico sem fome, não durmo,
Perco a respiração...
Enfim, qual a sua denominação?

Em todos os aromas, teu cheiro!
Em todos os sabores, teu gosto!
Eternamente na minha visão!

Por favor, qual a sua denominação?
Talvez eu minta,
Mas não sei não,

Acho que é amor o que sinto...
Ou qual o seu nome então?

sexta-feira, 4 de junho de 2010

Apertado de costura

Como Maria dizia, eu estou apertado de costura. É tanta coisa para fazer, resolver, escrever. É tanto projeto para dar andamento que eu estou me vendo rodado.

Não gosto de publicar projetos que ainda não tenham sido assinados, mas também sou ansioso demais para esperar para contar as novidades. Alguns já estão definidos, com data de início e término, outros ainda em fase deacertos.

Dia 19 de Junho viajo a Londres para trabalhar com o CANDOCO, companhia de dança inglesa que é referência na dança inclusiva mundial. Recebi o convite como um prêmio para minha carreira. Lembro que em 2003, querendo fugir de um abandono amoroso, desejei trabalhar com eles, enviei material para audição, mas não tive sucesso, agora recebo um convite para ir trabalhar com eles durante duas semanas. Estou muito feliz!

Foto de André Baliú para performance O Bicho ( O Corpo Perturbador)

Muito breve assinarei o contrato do espetáculo O Corpo Perturbador que estreará final do ano. Ganhei o Edital de Montagem de Espetáculos de Dança promovido pela FUNCEB ano passado. Um projeto que já venho idealizando há uns dois anos e que enfim terei a oportunidade de realizar.

Cheguei da viagem de Itacaré e soube que Judite foi aprovada no Edital de Circulação da FUNCEB de 2009, para circular pela Bahia ainda este ano. Enfim, conseguirei levar minha lagartinha amada para Sto Amaro e aproveito o embalo para levá-la a Lençõis e Itaberaba.

Foto de Céliar (Judite quer chorar,mas não consegue!)

Os 3 Audíveis.. Ana, Judite e Priscila também venceu o edital e vou junto com o Grupo X de Improvisação em Dança pelo interior baiano.

Em Julho faremos as Oficinas 1 min e 1/2 de Instantes Poéticos no Palacete das Artes Rodin Bahia, um laboratório de vídeo-dança, improvisação e artes plásticas pelos ambientes do museu. Gratuito, para uma turma de 30 pessoas, vencedor do Edital de apoio a propostas de formação artística e/ou qualificação técnica na área museológica e patrimonial (IPAC-Governo do Estado da Bahia-Palacete das Artes Rodin Bahia).


Ainda em Julho, participarei da etapa de Salvador do Projeto do Ar, mesmo projeto que me levou a Itacaré, promovido pela Cia Pensamento Tropical.

Foto de Edu O. em preformance Ah, se eu fosse Marrilyn Monroe! em Itacaré

Em Setembro matarei saudades dos meus amigos do Artmacadam, no projeto Euphorico 2010, no sul da França. Mais duas semanas viajando.

Foto do Euphorico 2009 no Cine Teatro Solar Boa Vista

E o projeto mais trabalhoso, porém um dos mais importantes deste ano, será o 1º Encontro de Dança Inclusiva. O que é isso? que estou organizando junto a Fafá Daltro e acontecerá de 08 a 12 de Setembro. Um desejo nosso de reunir artistas com e sem deficiência, pesquisadores em dança, profissionais na área de comunicação, educação, psicologia e produção para promover um debate interdisciplinar sobre a participação efetiva das pessoas com deficiência no processo de inclusão social tão divulgada e difundida nos últimos tempos, sobretudo no campo artístico da dança. Apresento o blog do Encontro para que vocês possam saber mais sobre o evento: http://encontrodedancainclusiva.blogspot.com/


Vir aqui na blogosfera é o meu descanso na loucura e onde me sinto em companhia, porque posso compartilhar com os amigos que tenho certeza torcerão por tudo isso.

quinta-feira, 3 de junho de 2010

Foi foda!

"Perdi de vista o bem que eu quero para você". Ouvi Jussara cantar isso bem baixinho, quase uma oração numa despedida triste, mas tão bela.

"Maria se retou!". Ouvi tia Mabel ler as palavras de Jorginho, num misto de tristeza e graça.

Vi tantos amigos de uma pessoa tão amiga.

Pensei em Miro.

Conheci Bernardo.

Encontrei Nilson e Marcus.

Nos abraçamos bem forte, eu e tia Ivonete.

Agradeci a ela pela rede crescida e pelas pessoas que me ajudou a conhecer.

Nem eu sabia que me doeria como doeu.

Saudade.

Essa foi foda!

quarta-feira, 2 de junho de 2010

Um dia de tristeza e muitas lembranças

Estava publicando o post anterior quando a tv me fez silenciar! Agora tia Mabel me ligou pedindo para eu informar aos e-amigos que o corpo de Maria será cremado, amanhã (03/06), as 10 horas, no Jardim da Saudade.

Estou pensando nela o tempo todo e lembrando coisas e pessoas e lugares que Maria é a responsável pelo meu contato com tudo isso: um amor intenso, gigante, transformador, meu primeiro "namorinho firme" como ela disse a uma amiga; o encontro com São Paulo que para quem me conhece sabe da loucura que tenho por esse lugar; a arte, as risadas, a identificação com seu gênio forte; seus livros, suas imagens, seu blog; sua luta.

Se mantive o Monólogos na Madrugada tem uma pontinha de responsabilidade dela também, porque com nossas trocas e seus comentários fui me estimulando a continuar.

É difícil falar em Maria sem pensar em coisas tão profundas em mim. É, hoje está difícil. O clima não está para feijoada. Ela sabe bem o que isso quer dizer.

A epóca do namorinho firme, eu ganhei da pessoa o primeiro cd de Jussara Silveira, madrinha da relação e nele foi gravado Bolero Maria Sampaio, música composta por Almiro Oliveira e J. Veloso. Como um desenho que se fecha, tudo volta a Maria, aliás a Tia Maria, como um dia ela demontrou sentimento porque eu não a chamava assim.


Bolero Maria Sampaio

Adros com lembranças do passado

O que me dá paz

É falar de você

Amigos são parentes que pude escolher

Perdi de vista o bem que eu quero para você

Segui infinitamente em suas saudades

Que você me contou

Oh! Quanto tempo se passou

Agora fazemos nossa história

Eu e você enfrentando o mundo

E sempre juntos estaremos

Pois qualquer distância é menor que o amor

A canção nos leva

A sonhar sem temor


Aqui meu sorriso fotografado por Maria

Urso


O que nos aprisiona? O que é estar dentro e fora? Onde é a liberdade? Exterior-Interior. Na tentativa de fugir, sair correndo pelo descampado, quanto mais desjeva ir, mais ele ficava.  Por onde é a saída se em todos os cantos há uma fresta, uma possibilidade de partida? O que nos aprisiona? Onde? Nem todas as direções nos guiam? Mas para onde? Uma corrente de ar perdida pela casa. Livre como o ar, mas presa? As correntes podem nos prender. Onde estão as chaves? Em que porta? E as janelas? Há um buraco do lado de fora, quem se atreve a pular?

Fotos de Cathy Pollini e Edu O.

Segunda pesquisa desenvolvida na residência Projeto do Ar - Itacaré, promovida pela Cia Pensamento Tropical, a partir das dificuldades encontradas com a minha locomoção no espaço.

terça-feira, 1 de junho de 2010

Homem-Água

Foto de André Baliú

Enquanto Água, rastejando pelo mundo, moldando-se ao terreno, sábio ou não, está no mesmo patamar que nós. Vê o outro homem brincar próximo ao seu leito. O homem de qualquer cor, brinca, sorri, dança ao lado de uma árvore, sua amiga. A princípio pensamos que está sozinho, mas como se tem a árvore? O Homem-Água quer brincar com ele, quer fazer parte de sua vida, mas não pode mudar seu caminho, não pode mudar seu rumo. é condição humana seguir o fluxo da vida obedecendo as fendas do terreno, desviando apenas o olhar, às vezes seguindo olhando para trás. Para quê? Será loucura?

Foto de André Baliú

*Na segunda foto Edu O. em performance junto com Pop.hipnotic.machine